sábado, 21 de agosto de 2010

Voo SP 129(*)

A condição de ilhéu obriga a viajar de avião com alguma frequência e, a cada viagem, mesmo para os mais rotinados, há novos e velhos motivos que contribuem para que a de hoje seja diferente de todas as outras.
A tarifa que se mantém inalterável mas a taxa que aumentou, a simpatia ou nem por isso da tripulação, as condições climatéricas que nos fazem prever se a aproximação e aterragem se farão sem grandes sobressaltos, os serviços em terra e no ar que deviam melhorar ao ritmo dos aumentos da taxas mas cuja proporcionalidade é inversa, enfim um sem número de pequeninas coisas que fazem com que cada viagem de avião seja uma autêntica caixinha de surpresas.
Tudo isto vem a propósito do voo SP 129 Lisboa/Ponta Delgada do dia 25 de Junho e de uma passageira que ao entrar na sala de embarque concentrou a atenção da população masculina que não mais “descolou” os olhares da generosidade das formas de mulher que a roupa da estação quente acentuava, depois, Bem depois tudo ficava por conta do imaginário de cada um.
Algumas das mulheres presentes sorriam com o ar “embasbacado” dos homens que se posicionaram para melhor usufruírem da visão proporcionada por um generoso decote e do ângulo formado pelo contraste do bronzeado das pernas cruzadas com o branco da saia curta e rodada. Outras revelavam na expressão facial e corporal algum incómodo pelos pensamentos e sentimentos, quiçá, menos dignos que lhes fervilhavam no espírito.
O certo é que ninguém, mulheres e homens ficou indiferente e, a passageira tinha consciência disso e exerceu o seu fascínio sobre a generalidade dos presentes que se deixaram, sem esboçar qualquer resistência, dominar por aquela presença que não sendo de uma mulher jovem, ou talvez por isso, despertou nas almas presentes os mais diversos sentimentos e condutas.
O voo SP 129 de Lisboa para Ponta Delgada atrasou cerca de meia hora não porque o comandante tenha ficado na sala de embarque a fumar demoradamente um cigarro desfrutando daquela visão, como um comum viajante de ocasião, mas pela chegada tardia do equipamento de voo, coisa que bastas vezes ouvimos quando se verificam atrasos nas viagens aéreas.
O tempo em rota e no destino estava bom, a refeição de bordo é o que sabemos e, o serviço de vendas aconteceu com normalidade e sem muita procura porque os tempos são de crise, mesmo sem cobrança de taxas a bordo.
As salas de embarque e as viagens de avião estão vulgarizadas e padronizadas. O romantismo e o espírito de aventura que envolvia o acto de viajar foram-se perdendo mas, apesar de tudo, subsiste alguma magia à volta de cada viagem e não faltam, invariavelmente, motivos que tornam cada uma diferente da outra, mesmo que na sala de embarque não haja ninguém que possa fazer disparar as hormonas masculinas e abrir sorrisos femininos conscientes do domínio que exercem sobre o “forte” sexo masculino.
Ponta Delgada, 14 de Julho de 2005

(*) Um texto do Verão de 2005. Foi publicado no AO em Julho de 2005 e por essa data ainda não tinha nascido o "momentos".

1 comentário:

Maria Brandão disse...

Muito actual. O preço das passagens da SATA continua elevado e os atrasos continuam a ser muitíssimo frequentes. As senhoras "fascinantes" nas salas de embarque e o ar apatetado que os homens adquirem na sua presença também :)