terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Persistir e resistir

A dois de janeiro de 2009 publiquei no meu blogue (momentos) um pequeno texto no qual pretendia expressar uma mensagem de esperança no limiar de um novo ciclo anual. Foi escrito em Lisboa depois de uns dias passados no interior continental em terras da Beira Baixa.
“Viagens!
Caminhos de Inverno, na beira serra, de encontro às raízes que crepitam no borralho acolhedor.
Aquecem os sentidos, refrescam as memórias do tempo pretérito! Mas … o futuro chama cintilando nas labaredas da viagem pela vida, num Ano Novo de Esperança.”
Um texto simples e despretensioso que apela à esperança, como muitos outros que tenho produzido. Na verdade, quando releio os textos que há mais de dez anos venho a publicar na imprensa regional e, mais recentemente na blogosfera, a palavra e a ideia de esperança são uma constante, se bem que o conceito que lhe está associado não é sinónimo do juízo de fé ou, mesmo, de desejo. A história ensina-nos que quando os povos se decidem a utilizar a sua força as transformações acontecem e, é essa certeza fundada na história da humanidade que me dá esperança. Esperança que procuro transmitir quando escrevo, quando falo e quando defendo que é possível. Sim! É possível um Mundo melhor, só depende da vontade dos povos.
Esta convicção inabalável é por vezes incompreendida. Quantas e quantas vezes me dizem que perco tempo e que estaria muito melhor do outro lado da vida. Ao que eu costumo responder: - Não, não perco tempo. E, sim estaria materialmente melhor do outro lado da vida mas não quero. Quero estar ao lado do meu povo, ao lado dos povos, ao lado dos mais desfavorecidos, ao lado dos “nada”. Estou do lado certo da vida, o lado esquerdo.
Persistir e resistir são qualidades revolucionárias e, por acaso ou não, o Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA) utilizou estas palavras na sua mensagem de Ano Novo, não quero dizer com isto que o Dr. Francisco Coelho seja um revolucionário. Não, nada disso, o que o levou a ter um discurso diferente foi o tempo. O tempo é de mudança anunciada, é tempo de transformações e o Presidente da ALRAA sabe-o e teme que as mudanças não sejam favoráveis. E sabe, no essencial, que é preciso resistir para garantir parte do que foi conquistado dentro do quadro do modelo de desenvolvimento europeu.
Resistir, é, no tempo que corre, agir para que as anunciadas transformações não aprofundem o retrocesso civilizacional que se está a verificar mas, a ação não pode ser só de resistência, a ação tem de conduzir à rutura de paradigma, sob pena do modelo predador de desenvolvimento se reconfigurar até à próxima crise e, entretanto algumas das conquistas civilizacionais ficaram pelo caminho.
Não tem que necessariamente ser assim mas, para o não ser, não nos podemos limitar a resistir, temos de exigir e afirmar um modelo de desenvolvimento diferente, aliás esse foi reconhecidamente um dos erros cometidos com as soluções encontradas no combate à crise financeira, em 2008, ou seja, o momento era apropriado para acabar de vez com o poder dos mercados financeiros, a opção foi capitalizar a banca e reconfigurar o sistema financeiro para que tudo ficasse na mesma, ou pior. Os especuladores deixaram a imobiliária e viraram-se para as dívidas soberanas.
As transformações podem ser sinónimo de avanço e não de retrocesso e a onda de contestação ao poder dos mercados que se verificou em 2011, um pouco por todo o planeta, veio reforçar a ideia expressa no texto que deu o mote a este escrito: - “... o futuro chama cintilando nas labaredas da viagem pela vida, num Ano Novo de Esperança.”
Ponta Delgada, 01 de janeiro de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 03 de janeiro de 2012, Ponta Delgada

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