sábado, 14 de janeiro de 2012

E assim se combate o terrorismo e os terroristas*

Nos últimos meses chegaram notícias de que um conhecido terrorista internacional se encontrava nos Estados Unidos e passeava, impunemente, pelas ruas de Miami.
O governo estado-unidense confrontado pela comunidade internacional com a presença deste personagem que dá pelo nome de Luís Posada Carriles no seu território, veio, em primeira instância, afirmar que desconhecia o seu paradeiro para, mais tarde, e muita pressão interna e externa depois, enviar ao seu local de acolhimento em Miami quatro agentes que o detiveram e o acusaram de crime por entrada ilegal nos Estados Unidos.
Posada Carriles, conhecido e reconhecido pelo governo dos Estados Unidos, tem um longo e mórbido currículo por toda a América Latina e do qual se pode destacar a responsabilidade pela morte de 73 pessoas durante o ano de 1976 fazendo explodir um avião comercial na costa dos Barbados.
Como explicam a administração Bush, os agentes federais, a polícia de Miami e os serviços de imigração o desconhecimento da entrada e permanência deste conhecido terrorista internacional em território do país que elegeu o combate ao terrorismo como a sua bandeira?
Como explica o governo estado-unidense aos seus cidadãos e à opinião pública internacional que o sanguinário Posada Carriles tenha sido apenas acusado do crime de entrada e permanência ilegal no território dos Estados Unidos?
O que leva a administração Bush a não responder ao pedido de extradição feito pelo governo do país de onde evadiu em 1985 e, no qual se encontrava a cumprir pena de prisão por uma das suas acções terroristas?
Documentos da CIA e do FBI, já desclassificados, comprovam não só a responsabilidade e autoria Posada Carrilles em várias acções terroristas, mas também que todo o seu percurso de terror teve o beneplácito das agências de segurança dos Estados Unidos.
Não tenho respostas para as perguntas que deixei anteriormente mas, o facto de Posada Carriles, tal como Osama Ben-Laden, ser um dos muitos monstros que a CIA criou talvez ajude à compreensão desta estranha atitude da administração de George W. Bush
Talvez ajude à melhor compreensão desta atitude da administração Bush se vos disser que o avião comercial que explodiu em pleno voo era da Cubana Aviaçón e que o país de onde se evadiu Posada Carriles foi a Venezuela que, agora, legitimamente solicita a sua extradição.
Quanto à ineficácia da polícia e dos agentes federais de Miami no combate ao terrorismo e aos terroristas não há nada de novo.
Enquanto os terroristas que perpetraram o ataque às Torres Gémeas se treinavam livremente no Estado da Florida as autoridades norte americanas procuravam empenhadamente agentes da inteligência cubana infiltrados nas máfias cubanas de Miami e que evitaram, com a sua acção, mais de 170 ataques terroristas contra o povo cubano.
Talvez ajude, ainda melhor, à compreensão desta contraditória situação se vos disser que os agentes cubanos se encontravam em Miami na sequência de um acordo antiterrorista entre a administração de Bill Clinton e o governo Cubano, na altura mediado pelo escritor Gabriel Garcia Marques, e do qual a administração estado-unidense fez tábua rasa em 1998.
Um dos muitos monstros criados pelo governo estado-unidense e pela CIA regressou à casa mãe criando um complexo problema à política interna e externa dos Estados Unidos.
Para a maior parte dos leitores tudo isto, suponho, será uma novidade porque este não é assunto dos noticiários nem que interesse aos poderes instituídos.
Vá-se lá saber porquê? Pois terrorismo é terrorismo e Luís Posada Carriles é responsável pela morte de mais de 3 mil pessoas, tantas quantas as que pereceram no ataque terrorista às Torres Gémeas.
Ponta Delgada, 23 de Junho de 2005

*Publicado na imprensa regional em junho de 2005 

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