segunda-feira, 27 de março de 2017

Aprender com os erros

Imagem retirada da internet
Em 2015 a Easyjet chegou de bandeira desfraldada e no meio de grande foguetório, em 2017 vai-se. Dizem que à procura de outros mercados, outros destinos. Há quem tenha ficado surpreendido e que considere que não é bom para os Açores. Quem o afirma deveria saber, melhor que eu, que as transportadoras aéreas de baixo custo só têm interesses, não se comprometem, ou melhor os compromissos duram enquanto os destinos suportam o défice estrutural dos baixos custos. Não, não é o mercado concorrencial a funcionar e quem julgar que sim anda bem enganado.
Não fiquei surpreendido com o anúncio da Easyjet, nem considero que este abandono anunciado venha colocar em causa a procura turística do destino Açores. As transportadoras que estão na rota Ponta Delgada/Lisboa/Ponta Delgada são suficientes para garantir os mesmos fluxos de passageiros e até suportar um eventual aumento. A questão que se levanta e que pode e deve merecer alguma reflexão é de natureza diferente.
A rota que a Easyjet vai abandonar, como se sabe, está liberalizada. Significa isto que não está sujeita a obrigações de serviço público, nada mais do que isto. Sendo assim qualquer das transportadoras que estão nesta rota podem, a qualquer momento, alterar o seu posicionamento e sair de cena por razões diversas. Temos como adquirido que a Azores Airlines (SATA) nunca se retirará independentemente das flutuações que se possam verificar na procura. E é assim porque é pública, É nossa. Talvez, por isso, deva ser acarinhada e não tão vilipendiada como o tem sido.
Não posso deixar de referir que hoje poderíamos ter duas das cinco gateways sem ligações a Lisboa não fosse a existência de uma transportadora aérea regional de capitais exclusivamente públicos. Para quem já se esqueceu o Pico e o Faial foram, logo após o início das novas Obrigações de Serviço Público (OSP) abandonadas, de um dia para o outro, pela TAP. A razão da retirada da TAP destas duas rotas está, diretamente, relacionada com processo que conduziu à sua privatização e com o défice de exploração que estava associado àquelas rotas. A SATA fez o que devia fazer, sem que houvesse alguma disposição legal que a isso a obrigasse, assegurou as ligações do Faial e do Pico a Lisboa não tendo, para o efeito, sido compensada financeiramente.

Imagem retirada da internet
Quem segue a vida política regional com alguma atenção vai dando conta que, nos últimos anos, a opinião pública regional tem vindo a ser preparada para aceitar a privatização, total ou parcial, de algumas empresas do setor público regional. A SINAGA, Santa Catarina, a EDA e a SATA estão neste pacote de empresas públicas ou, como no caso da EDA de capitais maioritariamente públicos, a serem privatizadas.
A vir a acontecer a privatização da SATA estará a cometer-se um erro da mesma dimensão do que foi cometido com a privatização do Banco Comercial dos Açores (BCA), julgo que ninguém em seu perfeito juízo afirmará, hoje, que a deliberação tomada pelo último governo do PSD, opção da qual o PS não está isento de responsabilidades, foi uma decisão da qual os Açores e o seu povo beneficiaram, Não foi como todos já percebemos. A privatização do BCA foi um erro grosseiro, como o será a eventual privatização, parcial ou total, do Grupo SATA.
Ponta Delgada, 26 de Março de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 27 de Março de 2017

Sem comentários: