quarta-feira, 29 de março de 2017

Um pilar do capitalismo

Foto by Aníbal C. Pires
Os dirigentes do Bloco de Esquerda (BE) lá vão tentando cumprir o objetivo para o qual o BE foi criado. Se é certo que não o vai conseguir, os ideais são indestrutíveis, não é menos verdade que os seus dirigentes, aliados diletos do capital como mais à frente se procura demonstrar, continuam arduamente a tentar.
Em ano de eleições autárquicas o projeto do BE resume-se a procurar retirar maiorias absolutas. Não, Todas não, apenas as da CDU. Assim sendo, pode concluir-se que o BE não tem projeto autárquico, o BE tem um objetivo político que se resume ao ataque às Câmaras da CDU, nada mais consentâneo com aquilo que esteve na origem da sua formação. Estou certo que para este objetivo o BE terá, obviamente, muitos apoios à direita, ao centro e, naturalmente, do PS. Para o BE o inimigo situa-se à sua esquerda, ou não fossem os dirigentes do BE uma associação de radicais de matriz social democrata, isto para além da sua natureza política parasitária e indigente.
É conhecido na Região e no País o seu “modus operandi”. Os dirigentes do BE vivem e afirmam-se nos tão apreciados e populares “sound bites”, e, uma vez que não têm projeto político parasitam agendas políticas alheias. Veja-se a recente reviravolta dada pela Mesa Nacional do BE, tornada pública pela voz de Catarina Martins, sobre o posicionamento face à permanência ou não de Portugal na União Monetária. Diz então Catarina Martins que, “(…) para recuperar a capacidade democrática do país sobre a economia e a finança, é urgente preparar o país para o cenário de saída do euro ou mesmo de fim do euro (…)". Quando li fiquei estupefacto com tamanha sem vergonha. O PCP há anos que vem afirmando essa necessidade e esse cenário político, isto enquanto o BE defendia o federalismo para a União Europeia, e agora despudoradamente, aliás como se tem vindo a verificar ao longo dos últimos anos, vem o BE a terreiro usurpar a ideia, como se não houvesse história, e apresentar como sua a proposta de preparar Portugal para uma eventual saída do euro ou o seu fim.
Catarina Martins por estes dias, estou certo, terá acabado a leitura do livro “Euro, dívida, banca – Romper com os constrangimentos, desenvolver o país” das edições Avante. E gostou. Gostou tanto que plagiou e transformou a tese ali desenvolvida numa resolução da Mesa Nacional do BE. Podia ao menos ter citado as fontes primárias, tinha-lhe ficado bem. E bem lhe teria ficado uma justificação pública sobre os motivos que levaram à alteração da posição do BE sobre este assunto já que, no dia 15 de Outubro de 2014, o BE se absteve na votação de uma proposta apresentada pelo Grupo Parlamentar do PCP, na Assembleia da República, que versava sobre esta questão em particular.

Foto by Aníbal C. Pires
Não é necessário ser um cidadão muito atento para vislumbrar qual a utilidade do BE, e, para se perceber o que quero dizer atentemos a esta frase de Mariana Mortágua, proferida numa conferência promovida pelo PS, em Setembro de 2016, "só a esquerda radical pode salvar o capitalismo". Como assim, salvar o capitalismo. Pois é, quem diria. Percebe-se assim a quem é que os dirigentes do BE são úteis. Mariana Mortágua assumiu-se, enquanto dirigente do BE, como um pilar do capitalismo, nem mais nem menos. Quanto à inutilidade dos dirigentes do BE para participarem em qualquer processo político transformador já há muito tempo a percebi.
Sei que a afirmação anterior foi retirada de contexto e que na mesma conferência a deputada Mariana Mortágua também disse, "é preciso perder a vergonha de ir buscar a quem está a acumular". Sei, e isto nem todos sabem, que esta última afirmação, no tempo e no espaço em que foi proferida, prejudicou uma iniciativa orçamental que estava a ser construída pelo PCP e para o qual se contava com o apoio do PS e do BE. Deste episódio beneficiou, isso mesmo, o capital.  
Não duvido que no seio do BE milite gente, muita gente, que genuinamente acredita que esta amálgama política que dá pelo nome de Bloco, tem algo de revolucionário. Não é, porém, o que a realidade demonstra.
Ponta Delgada, 27 de Março de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 29 de Março de 2017

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