quarta-feira, 8 de março de 2017

O pecado original

imagem retirada da internet
Santo Agostinho desenvolveu o conceito maniqueísta do pecado original com que procurou explicar a natureza imperfeita do homem. Nada se pode resumir, nem mesmo o pecado original, ao Bem (espírito) e ao Mal (matéria), ou seja, a conceção da realidade é bem mais diversa do que o antagonismo entre dois princípios que, por definição, são opostos.
Não deixa de ser interessante que das 3 religiões monoteístas, com origem em Abraão, apenas a cristã incorpore o conceito de pecado original, nem o judaísmo, nem o islamismo contemplam este conceito na sua doutrina, embora tenham encontrado outras formas de exercer domínio na esfera privada dos seus seguidores, pois é disso que se trata. De domínio.
O PS Açores, não só, mas também, sendo laico desenvolveu uma doutrina que visa o domínio e a perpetuação no poder através da negação das evidências. Paradoxal, sim é um paradoxo, mas tem resultado. Os indicadores sociais e económicos na Região que nos colam aos lugares da cauda do desenvolvimento resultam de erros nas opções políticas e económicas do PS e do seu governo, é uma evidência. Mas o PS nega-a.
Vejamos o caso do desemprego que, segundo as estatísticas oficiais, tem vindo a baixar. Não vou negar uma evidência, mas importa perceber a que se deve esta diminuição na taxa de desemprego e à qualidade do emprego criado. Nas estatísticas de emprego, das quais resultam as taxas de desemprego, não são contabilizados os cidadãos desempregados que beneficiam de um programa ocupacional ou estágio e, claro, quem emigrou também deixou de contar, por outro lado dos novos contratos celebrados, 90% são a termo certo, ou seja, precários. Diria que confrontar as variações homólogas da taxa de desemprego e concluir, como faz o governo do PS, que as variações que apontam para a diminuição da taxa de desemprego é um resultado bem-sucedido das suas políticas, é tão maniqueísta como a metodologia de Santo Agostinho.
Vejamos agora a pobreza e a taxa de risco de pobreza que são, como se sabe, das mais elevadas do país, o PS Açores não tem como negá-lo, e não nega. Mas nega qualquer solução que combata as causas que lhe estão na origem e que estão devidamente identificadas em diferentes estudos. Os baixos rendimentos do trabalho e a precariedade laboral são as principais causas da pobreza nos Açores, não são únicas. A baixa formação académica e profissional da população, tal como os exíguos rendimentos e a elevada precariedade, contribuem também para que um alargado segmento da população açoriana se perpetue num ciclo de pobreza sem fim, ou em elevado risco de passar a baixo do limiar da pobreza, designadamente, muitas crianças e jovens.

Foto by Aníbal C. Pires
As respostas do PS Açores e do seu governo são conhecidas, desinvestimento na Educação pública, promoção da precaridade na contratação para a administração pública, baixos salários na administração regional, verificando-se mesmo a existência de trabalhadores que só auferem do salário mínimo com a compensação que lhes é devida pela remuneração complementar, o PS não nega, mas procura resolver os problemas que estão na origem da pobreza e da exclusão com uma vasta rede de suporte a políticas passivas, ao assistencialismo que, sendo importante, não se pode constituir como a única resposta face à identificação das causas que estão na origem da pobreza crónica.
Quanto ao setor privado, naturalmente, agradece e segue o exemplo do Governo Regional praticando a precariedade laboral e uma política salarial que mantém e aumenta o número de trabalhadores e as suas famílias na pobreza ou a caminho dela. Mal de uma economia e mal irá uma empresa que ancora a sua estratégia competitiva nos baixos custos do trabalho.
O pecado até pode não ser original mas as políticas públicas e privadas fundam-se no mesmo princípio com que Santo Agostinho o tentou explicar e justificar, há outras variáveis que não seja a diminuição continuada dos custos diretos e indiretos do trabalho para as empresas serem competitivas e lucrativas como, aliás se verifica nos países com economias robustas e saudáveis e onde se constata o inverso, ou seja, diminuição dos tempos de trabalho, estabilidade no emprego e políticas salariais que garantem dignidade aos trabalhadores.
Ponta Delgada, 06 de Março de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 08 de Março de 2017 

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