domingo, 3 de junho de 2018

Da mulher - crónicas radiofónicas

Do arquivo pessoal - Madalena Pires no cume do Pico

Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105FM

Hoje fica o texto da crónica emitida a 10 de Março de 2018 que pode ser ouvida aqui




Da mulher

Por estes dias assinalou-se o Dia Internacional da Mulher. Sabe-se qual o dia, 8 de Março, e não outro, bem como conhecidas são as razões, julgo eu, porque se recorda este dia.  Apesar de, face a alguns discursos, comentários e, sobretudo, atitudes que começam a instituir-se me levantem algumas dúvidas sobre a consciência histórica, social e política do que está na origem do Dia Internacional da Mulher, mas sobretudo pela necessidade de, em pleno século XXI, manter um dia dedicado à mulher, ou melhor à luta das mulheres.
Mas vamos partir do pressuposto que não é o seu caso e, portanto, não vou repetir-lhe os dados históricos, nem as estatísticas que comprovam a desigualdade de género e que justificam que o calendário continue a registar este dia de luta.
Uma luta que não é exclusiva das mulheres. Estas como outras lutas não têm género, é uma contenda pela dignidade humana.
Quero que todos os dias e todas as mulheres sejam felizes, mas não me parece adequado desejar um Feliz Dia da Mulher, seja à minha companheira, à minha colega de profissão, às minhas filhas, ou a qualquer mulher no Dia Internacional que lhes é dedicado. A resposta a este voto pode muito bem ser, Deixa-te de tretas levanta-te e luta comigo.
O pensamento dominante e os seus servidores arranjam sempre expedientes para formatar as consciências dos mais incautos e, em relação às mulheres e às suas lutas, esta frase que é bastamente conhecida talvez seja o paradigma disso mesmo. Quem não conhece e reconhece como sendo de valorização das mulheres a seguinte frase: - Atrás de um grande homem (burguês) há sempre uma grande mulher.

Foto arquivo pessoal - Madalena Pires (MIUT 2018) 
Acha que sim, Tudo bem. Mas concordará comigo que esta formulação remete a mulher para o papel que ancestralmente lhe destinaram. Digamos que é um pensamento um pouquinho retrógrado e que visa perpetuar o ascendente masculino, Diz que não.
Então veja lá esta outra formulação: - Atrás de um grande homem (revolucionário) não existe nada, pois a sua companheira luta ao seu lado.
Tem de reconhecer que existe alguma diferença entre as duas frases, mas a diferença não é apenas de sintaxe, a diferença é significativa e traduz pensamentos e posicionamentos distintos. A escolha é sua. 
Vou terminar com um pequeno poema que escrevi, na cidade da Horta, no dia 8 de Março de 2015, e que traduz um pouco do que penso e como me posiciono em relação a estas questões.

Lado a lado

É um dia
Como são outros, todos os outros
Dias de luta
Contra a indignidade
Que discrimina
A filha, a irmã, a mãe
A companheira, a amiga
Este teu dia, Mulher
Celebra velhas e ganhas contendas
Este teu dia, Mulher
É mais do que recordar
É mais do que celebrar
É um dia
Como são outros, todos os outros
Dias de luta
Pela liberdade do teu sorriso
Por um brilho no teu olhar
Caminho ao teu lado
Lutando contra a indignidade
Que te aprisiona o sorriso
Que te entristece o olhar
………………………

Fique bem, Eu volto no sábado.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 10 de Março de 2018

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