Imagem retirada da internet |
Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105FM
Hoje fica o texto da crónica emitida a 17 de Março de 2018 que pode ser ouvida aqui
Marielle, a última de uma longa lista
A comunicação social nacional não noticiou, em devido tempo, o assassinato, no passado dia 14 de Março de Marielle Franco. Nas edições do dia 16 já não faltavam crónicas, opiniões, notícias e notas biográficas sobre a ativista política de esquerda que era vereadora do Rio de Janeiro eleita pelo PSOL, Partido Socialismo e Liberdade. As redes sociais têm destas coisas, passadas algumas horas de serem inundadas com a notícia seria incompreensível para a opinião pública nacional que os jornais, as rádios e as televisões continuassem a fazer de conta que aquela tinha sido apenas mais uma morte violenta, na violenta cidade do Rio de Janeiro e, como tal, o melhor era mesmo “passar ao lado” para não colocar em causa o regime brasileiro, que como se sabe tem um presidente não eleito em resultado de um golpe palaciano que destituiu a presidente eleita pelo povo brasileiro.
As alusões ao assassinato de Marielle Franco e de Anderson Pedro Gomes, motorista da viatura onde também seguia Fernanda Chaves, assessora de imprensa da vereadora carioca, e que ficou ferida sem gravidade, mas, como dizia, as menções da comunicação social nacional, com exceção de algumas crónicas de opinião, destacam os atributos e notas biográficas de Marielle, o seu percurso de vida, a sua militância política à esquerda, referem, era de todo impossível não o fazer, o óbvio, ou seja, que se terá tratado de uma execução perpetrada por milícias, provavelmente ligadas à polícia militar, as munições utilizadas assim o indiciam, mas obliteram tudo o que pode ligar este hediondo crime ao regime brasileiro e à luta contra o golpe que guindou para o poder os lacaios dos poderosos.
Marielle Franco era uma referência da luta contra a violência que acabou por lhe por fim à vida. Em Fevereiro tinha sido nomeada relatora da comissão que investigava a violência policial e militar no Rio de Janeiro. Esse terá sido o móbil da sua execução.
Imagem retirada da internet |
Todos estes líderes e ativistas políticos e sindicais foram mortos por se terem destacado na luta em defesa das suas comunidades, dos trabalhadores e das populações que representavam.
Não vou ler os nomes desta longa lista, mas sempre lhe direi que 2 dias antes do assassinato de Marielle Franco, ou seja no dia 12 de Março, foi assassinado Paulo Sérgio Almeida Nascimento, líder comunitário no Pará. Paulo Nascimento era um dos líderes da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazónia. Segundo a Polícia Civil, ele foi alvejado por disparos efetuados do exterior de sua casa, na cidade de Barcarena. Paulo Nascimento e a organização a que pertencia mantinham uma luta contra a refinaria Hydro Alunorte, responsável pelo despejo de detritos tóxicos na bacia hidrográfica da sua região.
Preferia conversar consigo sobre um outro qualquer assunto, mas estes atos de terrorismo não podem ser ignorados. Sim é de terrorismo que se trata, ainda que a comunicação social não trate este assunto como tal, mas não é por isso que o assassinato de Marielle e de todos os outros ativistas não se constituem como atos de terrorismo.
Fique bem, eu regresso no próximo sábado.
Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 17 de Março de 2018
Sem comentários:
Enviar um comentário