quarta-feira, 13 de junho de 2018

A cimeira

Imagem retirada da Internet
O Mundo está a tornar-se num lugar cada vez mais estranho, ou então serei eu que fico perplexo com o que poderá constituir uma normalidade para quem vê televisão e lê os principais títulos da imprensa. É bem possível que o problema seja meu pois, dispenso a televisão e costumo ler para lá da imprensa escrita.
Não posso dizer que não fiquei surpreendido com o encontro entre o Presidente dos Estados Unidos e o Presidente Coreia do Norte, desde logo pela disponibilidade de Donad Trump. Não era, para mim, expetável que uma personalidade como o atual Presidente dos Estados Unidos desse este passo. Para outros cidadãos talvez não seja assim e, este encontro se tivesse realizado exatamente pelas caraterísticas das controversas personalidades que o protagonizaram. Talvez, mas mais do que especular sobre os contextos e as perplexidades importa perceber se este foi, ou não, um passo decisivo para por um ponto final num conflito que dura já lá vão mais de 65 anos. Tenho algumas dúvidas e, veja-se só, as minhas reservas sobre o assunto não residem em Donald Trump, mas nos falcões do Pentágono e nos interesses do complexo militar/industrial dos Estados Unidos. Estranho, não é.
Fiquei surpreendido, mas depois da Declaração Panmunjom subscrita pela Coreia do Norte e pela Coreia do Sul, no passado dia 27 de Abril este encontro é, diria, uma decorrência natural neste conturbado processo. Por outro lado, as minhas dúvidas resultam, também, do histórico dos esforços de reconciliação empreendidos pelos governos da Coreia do Norte e da Coreia do Sul, ao longo de dezenas de anos, mas que as ingerências externas acabaram sempre por boicotar. Apesar do que já ficou dito a realização da Cimeira, ao mais alto nível, tem um significado político que não pode ser desvalorizado.
O Mundo espera, eu pelo menos alimento essa esperança, uma solução para este ameaçador conflito. Solução na qual se exige o respeito dos princípios da soberania e independência nacional, do direito do povo coreano a decidir dos seus próprios destinos, no caminho para a concretização da sua aspiração à reunificação pacífica da Coreia. Estes pressupostos implicam o fim das ingerências estrangeiras e das ameaças externas e, certamente, a desnuclearização e a desmilitarização da península coreana.
Que este é um desejo dos coreanos, do Norte e do Sul, é por demais sabido, aliás a designação de Coreia do Norte e Coreia do Sul não está correta, a designação oficial é República Popular Democrática da Coreia e República da Coreia. A designação não divide o que de alguma forma significa que a separação foi mais um dos artificialismos dos pós II Guerra Mundial, embora já durante o Século XIX o império russo e o império japonês tivessem tentado a divisão da Coreia em função das suas áreas de influência, o que nunca se concretizou tendo a Coreia ficado sobre o domínio do império japonês, desde 1910 até ao fim da II Guerra Mundial.

Ponta Delgada, 12 de Junho de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 13 de junho de 2018

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