segunda-feira, 11 de junho de 2018

Não é a pátria, É o povo

Imagem retirada da Internet
Tenho de confessar que alguns comentários e escritos sobre as comemorações do dia 10 de Junho me incomodaram. Não porque o meu sentimento patriótico tivesse sido beliscado, nada disso, mas pela superficialidade da opinião e da crítica que foi sendo divulgada nas redes sociais e do que fui ouvindo nas ruas, não dos residentes, mas de alguns turistas vindos do continente. Tipicamente português, como está por aí descrito por alguns cientistas sociais e filósofos lusos.
Não vou perder tempo com o assunto somos assim e pouco, ou mesmo nada há a fazer. Eu pelo menos não estou disponível para sequer tentar contrariar a alienação que continua a produzir cidadãos incapazes de perceber que o problema não são as forças armadas, o problema é o desenho das políticas de defesa nacional.
Podem considerar esta como uma desistência, este povo tem o país que escolheu e não o seu contrário, afinal o poder de transformar reside no povo e não nas instituições. Se o povo se demite do seu papel transformador só pode queixar-se de si mesmo. O que em última instância significa que as instituições não são mais do que o espelho do povo que somos. E não é de agora, é de sempre. Há uma ou outra exceção ao longo da nossa história, mas qualquer delas não perdurou e tudo voltou à santa paz do senhor.

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Mas se o sentimento patriótico não se manifestou pelo 10 de Junho, está prestes a eclodir com o início do mundial de futebol, isto se a coisa correr de feição e a seleção vier a obter resultados, porque se assim não for as bandeiras serão rapidamente recolhidas e o sentimento irá rapidamente focar-se nas tricas futebolísticas internas, aliás onde somos verdadeiros especialistas a julgar pela quantidade de programas informativos sobre o tema.
Os agricultores franceses vão bloquear as refinarias que vão importar óleo de palma para a produção de biodiesel. Estou de acordo com os agricultores franceses, desde logo porque a utilização maciça de óleo de palma para a produção de biodiesel não é tão amiga do ambiente como à primeira vista parece, mas a preocupação dos agricultores franceses nem sequer é ambiental, é mesmo para defenderem as suas produções, ou seja, as refinarias que produzem biodiesel têm utilizado óleo de colza produzido em França que agora pretendem substituir pelo óleo de palma.
Perguntará o leitor, A que propósito vem a luta dos agricultores franceses quando estamos a falar do povo português. Tem tudo a ver caro leitor, Em Portugal essa mobilização nunca seria possível. É por isso que em França a idade da reforma é aos 60 anos e em Portugal vai aumentando todos os anos. Em França também tentaram, mas os franceses vieram para rua, mobilizaram-se, uniram-se e saíram vitoriosos. Os portugueses desistem antes do fim, desistem antes de confirmar se conseguem chegar à bola antes dela sair pela linha de fundo.
Não é a pátria, É um povo moldado por uma história mal contada.
Ponta Delgada, 10 de Junho de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 11 de Junho de 2018

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