terça-feira, 30 de outubro de 2018

Preocupante e expetável

Palácio do Planalto - Brasília (imagem retirada da Internet)
Se regozijei com o resultado das eleições presidenciais no Brasil, Não. Claro que não. Se tinha alguma expetativa sobre a possibilidade de acontecer uma viragem e o candidato da “frente democrática” ganhar as presidenciais, Tinha. Se venho insultar o povo brasileiro pela sua opção eleitoral maioritária, Não. Se me custa aceitar que seja possível alguém com o perfil do cidadão brasileiro que foi eleito presidente ser objeto de tanto apoio popular, Custa. Se existem explicações para este e outros fenómenos eleitorais semelhantes, Existem sim e, desde logo, uma explicação política concreta, para além do conhecido contexto em que este ato eleitoral foi disputado e de outras variáveis igualmente relevantes.
Mas antes de abordar uma das razões que, em minha opinião, justificam estas opções eleitorais por candidatos com discursos e propostas que, há alguns anos atrás, perdoem-me a expressão, não lembrariam ao diabo, mas que na atualidade recolhem um crescente apoio eleitoral, e, os exemplos são conhecidos, não posso deixar de registar a minha perplexidade por algumas opiniões que tive oportunidade de ler e de ouvir sobre a atual situação política brasileira onde acabou de ser eleito como presidente um cidadão com caraterísticas, direi, pouco democráticas.

Imagem retirada da Internet
Não, Não é estranho e o fenómeno vai ter tendência a alastrar-se pela falência das democracias liberais que promovem o rotativismo do poder entre os partidos do centro e pela sua submissão ao neoliberalismo económico e à especulação financeira. O caso brasileiro não é único, nos Estados Unidos, em França, na Polónia, na Hungria, mas também na Grécia e em Itália ascenderam ao poder alguns “outsiders” afastando do poder os partidos da alternância ao centro.
No final da década de 90 do século passado caíram, com a implosão da União Soviética, um conjunto de referenciais políticos, sociais e económicos que deixaram o caminho livre ao neoliberalismo que desde a década de 70 vinha a ganhar força, primeiro com a “experiência” chilena e depois com a sua exportação, ainda que maquilhada, para os Estados Unidos e Inglaterra. Os partidos sociais democratas ou do chamado socialismo democrático deixaram cair a sua matriz política, em Portugal Mário Soares meteu o socialismo na gaveta, e com a adesão à chamada “terceira via” a social democracia aproximou-se ideologicamente dos partidos liberais e conservadores. Ou seja, o poder político nos países europeus tem vindo a ser exercido pelo centro político constituído por partidos cujos projetos pouco diferem sem que as respostas políticas satisfaçam os cidadãos que têm vindo a assistir à degradação das sua condições de vida, à perda de direitos sociais, rendimentos e, sobretudo, à desacreditação dos atores políticos em grande medida pelo seu afastamento dos cidadãos e povos que representam, mas também pela impunidade face a conhecidos casos de utilização dos cargos públicos em proveito próprio.
Estes são fatores que favorecem o apoio eleitoral a projetos políticos cuja matriz ideológica pouco importa, numa primeira instância, aos eleitores, mas que lhes dá, ou promete, soluções diferentes e radicais para solucionar os seus problemas mais prementes.
Nada disto é novo, mas alguns cidadãos e atores políticos teimam em meter a cabeça na areia.

Ponta Delgada, 28 de Outubro de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 29 de Outubro de 2018

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