sábado, 13 de outubro de 2018

Um não assunto, ou a silly season a fazer das suas - crónicas radiofónicas

Foto by Madalena Pires






Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 21 de Julho de 2018 que pode ser ouvida aqui









Um não assunto, ou a silly season a fazer das suas

Foto by Aníbal C. Pires
Arranjar um assunto para conversar consigo no último fim de semana de Julho que não seja, de todo, uma futilidade, não é tarefa fácil. Não que os assuntos rareiem, não falta por aí animação, mas não sou muito dado a festas, sejam elas brancas ou às cores. Notícias dramáticas também abundam, seja na Região seja um pouco por todo o Mundo, mas também não sou muito dado a explorar as emoções para atrair a atenção, ou seja, esta coisa de que os factos são menos importantes do que as emoções, não é a minha praia. Isto não significa que não me emocione, ou que, por vezes, o que escrevo e digo seja pouco racional e resulte de um estado de alma que tenho necessidade de partilhar, assim como um grito sussurrado para o papel, ou melhor para um qualquer suporte digital  e, que se liberta e vai por aí parar às mãos de alguém, ou ao monitor de um smartphone ou de um computador pessoal, ou ainda, como é o caso, aos seus ouvidos. Não se preocupe hoje não vai acontecer nada disso, nem gritos, nem sussurros.
Sabe que, para mim, seria tão mais fácil escrever e falar sobre o que as pessoas querem e gostam de ouvir. Mais fácil e, sobretudo, mais popular. Não sigo esse caminho por não saber como se percorre, conheço-lhe todos os atalhos e encruzilhadas, mas porque não ficaria bem comigo mesmo.
Sim, eu sei que nada ganho com isso e terei sempre muita dificuldade em prender a atenção de quem me lê e ouve, mas tendo essa perceção, ainda assim, prefiro ficar com a minha consciência tranquila por não embarcar em facilitismos e populismos que não favorecem o pensamento crítico e a compreensão, o mais aproximada possível, da realidade que nos envolve e conforma.

Foto by Aníbal C. Pires
Tenho uma amiga que lê a generalidade dos textos que eu produzo, lê também os textos de um outro opinador da 105 FM, que escreve de forma invejável, e tem a seguinte opinião sobre os textos que produzimos: O que tu escreves obriga-nos a pensar, desperta em nós a curiosidade, os textos daquele teu amigo deixam-me de alma cheia, ainda que por vezes, quer um quer outro, invertam os papeis. Tu raramente abandonas a tua matriz dialética e mostras o teu outro lado, e o teu amigo, com mais frequência, atravessa a fronteira entre a abordagem da realidade e a prosa poética com que ele tão bem se expressa. 
E eu concordo, em absoluto, com ela, Assim é, sem que os textos do tal meu amigo sejam vazios de conteúdo, nada disso. É na forma como se abordam as questões que reside a diferença. Ele é um homem de fé, eu não a tenho. Tenho dúvidas, quiçá ele também, mas tem uma âncora de referência, Eu não. Eu ando por aí à deriva e quantas e quantas vezes a navegar contraventos e marés sem o amparo de um ancoradouro abrigado.
Não terá sido uma futilidade esta nossa conversa, já não estou tão seguro se afinal não se tratou de um grito sussurrado, ainda que tenha sido expresso com a voz firme e no tom adequado de modo a não ter necessidade de aumentar o volume do seu rádio para poder ouvir.

Bom fim de semana.
Fique bem eu volto, assim o espero, no próximo sábado.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 28 de Julho de 2018

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