terça-feira, 12 de agosto de 2008

O "INCENTIVO" e a arte da não notícia

Tenho alguns anos de vida pública e, naturalmente, muitos contactos com jornalistas e órgãos de comunicação social.
Tenho cultivado, e cultivo, uma relação de grande respeito pelo trabalho dos profissionais da informação e pelas opções editoriais dos OCS. Concordando ou não com as escolhas, com os conteúdos ou a forma como a informação é produzida.
Uma única vez exigi o direito de resposta ao ser visado, de forma soez, num editorial de um já extinto diário que se publicou na Região.
Mas hoje ao ler o “Incentivo”, que se publica na cidade da Horta, não posso deixar de tecer algumas considerações sobre a notícia que faz a manchete do dia, sem nada exigir até porque a liberdade e a independência dos OCS é uma coisa que muito prezo.
O texto cujo objectivo seria o de informar os leitores sobre a apresentação do 1.º candidato pelo Círculo Eleitoral do Faial às eleições regionais afinal é uma não notícia.
Sobre o que foi dito pelo candidato apresentado a referência vai para o acessório e ainda por cima não constituiu surpresa, segundo o “Incentivo”, que há algum tempo atrás num outro texto de profunda análise política (adivinhação) afirmava, de forma eloquente que o Dr. Luis Bruno não seria candidato e que o PCP, dentro da sua estrutura haveria de arranjar um outro nome mas sempre sem constituir nenhuma estranheza.
Nesta sessão também fez uma intervenção o Coordenador Regional do PCP e da CDU Açores (cargo que desempenho) sobre o conteúdo nem uma palavra, apenas, a referência de que Aníbal Pires tinha feito uma comunicação.
Os faialenses que leram o “Incentivo” ficaram sem saber o que pensa a CDU sobre o actual estado da Região, também não foram informados de que o Senhor Francisco Gonçalves é o mandatário da candidatura, mas ficaram a saber que o meu camarada Mário Serpa tem um “espírito truculento”. Nunca percas esse espírito camarada Mário Serpa.
O “Incentivo” tem a sua linha editorial e a responsabilidade é exclusivamente da sua Direcção mas eu, enquanto cidadão não posso deixar de ter opinião.
E, assim:
- o texto do “Incentivo” é um arrazoado de juízos de valor e opinião que só teria legitimidade numa coluna de opinião;
- o texto produzido pelo “Incentivo” sobre o assunto não é, em definitivo, informação.
- é lamentável que um órgão de informação (público ou privado) se preste a fazer o contrário daquilo que é o seu objecto social –INFORMAR - e publique não notícias.
- os juízos e interpretações cabem aos leitores, não aos redactores e jornalistas, a estes cabe dar a notícia, isto é, INFORMAR.

1 comentário:

Maria Margarida Silva disse...

É deplorável, para não dizer revoltante, que aconteçam episódios desse teor.
A Ética deve estar presente em tudo o que o jornalista faça e a veracidade é o alicerce fundamental da informação.
O jornalismo deve informar com exacção, sem nada esconder e fornecer ao leitor os elementos necessários para que ele construa a sua própria opinião. Um jornalismo que defenda os reais interesses da comunidade, desvinculado de intimidades com o poder e que assuma, sem vacilações, o papel que a sociedade lhe confere. Só assim se evitarão deturpações e critérios que resultarão em discriminações e prejuízos para o acesso do leitor a discussões com características efectivamente pluralistas.