A revolução de 25 de Abril de 1974, contrariamente à revolução de 1910, teve um conteúdo verdadeiramente popular. Pela primeira vez em Portugal, os trabalhadores intervieram na Revolução como força social autónoma, com as suas próprias reivindicações, defendo os seus interesses e não os interesses das classes dominantes.
Ao levantamento militar dirigido pelo Movimento das Forças Armadas, seguiu-se um poderoso levantamento popular, neste processo os trabalhadores assumiram-se como a força mais organizada e combativa.
A revolução de Abril de 1974, com a instauração de amplas liberdades e a consagração na Constituição das conquistas democráticas, instituiu o regime mais progressista da Europa capitalista: um regime democrático assente na liberdade da constituição de partidos políticos, na liberdade de organização sindical e no direito à greve.
Um regime em que as instituições políticas se complementavam com a intervenção popular; um regime assente numa nova organização económica, sem monopólios nem latifúndios; uma política social inequivocamente a favor dos trabalhadores e das camadas sociais mais desfavorecidas; uma nova política cultural com a democratização do ensino, a liberdade de imprensa e de criatividade artística e o combate ao obscurantismo e ostracismo cultural a que o país tinha sido sujeito.
A Revolução de Abril põe fim às trágicas guerras coloniais e inaugura uma política de amizade e cooperação com todos os povos.
As conquistas democráticas alcançadas com a Revolução de Abril são inseparáveis da luta de resistência ao fascismo travada durante 48 anos e, na qual, o PCP desempenhou um papel determinante.
Portugal é hoje um país profundamente diferente daquele que em 1910 pôs fim à Monarquia e implantou a República e se a Revolução Republicana representou avanços. A Revolução de Abril – com o seu carácter verdadeiramente popular – impôs profundas transformações que, apesar de todos os recuos que lhe foram sucessivamente introduzidos, ainda hoje se mantêm presentes em importantes aspectos da vida nacional, um deles é a própria autonomia regional.
Concluo hoje a publicação de textos alusivos à celebração do centenário da implantação da República em Portugal com a certeza de que poderia ter aprofundado mais alguns dos aspectos que caracterizaram este século mas consciente que este contributo serviu para apresentar uma perspectiva diferente deste século, por outro lado, se nos reportarmos aos primeiros textos que publiquei sobre esta temática verificamos que a situação que hoje vivemos em Portugal tem algumas semelhanças com o período histórico em que decorreu a Revolução de 1910. A dependência externa, as profundas desigualdades sociais e a pobreza voltam a preocupar os portugueses que cada vez mais exigem a reposição da esperança que Abril lhes trouxe e que alguns se encarregaram de ir destruindo.
Aníbal Pires, IN Diário Insular, 30 de Junho de 2010, Angra do Heroísmo
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