sexta-feira, 25 de junho de 2010

100 anos de República (4)

Entre os finais do século XIX e o inicio do século XX, acompanhando o desenvolvimento capitalista do país, opera-se uma importante transformação do movimento operário e sindical.

Aumentaram o número de sindicatos e dos seus efectivos; intensificaram-se as lutas e o recurso à greve; o reformismo e o corporativismo recuaram para dar lugar ao “sindicalismo revolucionário”; o movimento sindical passa assim a situar-se no terreno da luta de classes.
No período que seguiu à implantação da República e apesar dos dirigentes republicanos terem procurado e saudado o apoio do movimento operário ao novo regime, o recurso crescente à repressão, a negação e limitação das liberdades foi a resposta do poder republicano ao movimento operário.
A ditadura de Sidónio Pais é a primeira tentativa para esmagar o movimento operário, mas foi este que, apesar de todas as suas fragilidades, de mostrou decisivo para a derrota do “sidonismo”, como o foi em outros momentos no combate às intentonas contra revolucionárias.
O divórcio entre os trabalhadores e a República veio a verificar-se fatal para o novo regime, isto apesar da dimensão das lutas e do movimento operário entre 1910 e 1926 e da obtenção de importantes conquistas.
A CGT (Central Sindical criada em 1919) dominada pelo anarquismo e pelo anarco-sindicalismo perdeu influência e em vésperas do golpe de 28 de Maio estava em franca desagregação e incapaz de mobilizar as massas populares e os trabalhadores para a resistência.
Foi neste contexto histórico que, em 192, que foi fundado o PCP. A necessidade da fundação resultou, naturalmente do contexto de crescimento orgânico e numérico do operariado português, das reflexões feitas sobre as experiências e resultados do impetuoso movimento reivindicativo, da divulgação das conquistas da revolução russa de 1917, na qual a Federação Maximalista e o seu órgão Bandeira Vermelha desempenharam papel essencial.
Com a base social e política da República a estreitar-se cada vez mais em virtude de uma crise profunda e pela política fiscal, alguns sectores da pequena e média burguesia urbana (Porto e Lisboa) aproximam-se das forças mais retrógradas reforçam posições e crescem as ambições do grande capital industrial e bancário.
O golpe de 28 de Maio surge, assim, em resultado desta evolução das forças políticas aliadas aos grandes interesses económicos e sob a cortina da estabilidade e da ordem, colocando o aparelho de estado ao serviço do grande capital e silenciando o movimento operário e as forças políticas democráticas.
A coluna de Gomes da Costa desceu de Braga a Lisboa praticamente sem resistência e o Presidente da República entregou-lhe o poder, abrindo-se assim caminho para a completa liquidação das liberdades democráticas e a instauração da ditadura fascista que se prolongou até Abril de 1974.
Sob a ditadura fascista, todos os partidos republicanos e o Partido Socialista se desagregaram, auto-dissolveram-se ou capitularam, o mesmo sucedeu com ao movimento sindical de influência anarquista ou reformista.
O PCP foi o único partido que, ao criar uma organização clandestina, ao não capitular perante a repressão e as dificuldades, estreitamente ligado ao povo e aos trabalhadores, resistiu à ditadura fascista, organizou e encabeçou uma longa luta de resistência à ditadura procurando a unidade de outros sectores democráticos.
O PCP deu assim uma contribuição determinante e ímpar para a conquista da liberdade em 25 de Abril de 1974. (continua)
Aníbal C. Pires, IN Diário Insular, 23 de Junho de 2010, Angra do Heroísmo

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