quarta-feira, 9 de junho de 2010

100 anos de República (2)

O desenvolvimento desigual do capitalismo conduziu a alterações na relação de forças e ao agravamento das contradições inter-imperialistas que virão a ter como desfecho a I Guerra Mundial.
A influência dos EUA cresceu e passou a rivalizar, no plano industrial com a Grã-Bretanha, Alemanha e França. A Itália e a Alemanha, nações unificadas no final do século XIX e o seu crescente poder económico e influência começam a colocar em causa a hegemonia do império Britânico.
O Japão e mais tarde a China vão-se afirmando como potências asiáticas. A vitória do Japão na guerra russo-japonesa animou o militarismo, reforçou as ambições imperialistas do Japão e expôs a fragilidade da Rússia czarista dando origem à revolução russa de 1905 que, segundo alguns autores, foi apenas um ensaio da Revolução de 1917.
Foi neste quadro que a Inglaterra, pretendendo apoderar-se de vastos territórios do interland africano, lança a Portugal o já aludido Ultimatum de 1890 e mais tarde empurra o nosso país para a I Guerra Mundial (1914-1918).
Mas este foi também um tempo de avanço revolucionário, de difusão do marxismo no movimento operário, de fundação de fortes partidos da classe operária e de grandes lutas populares.
À data da revolução de 1910, o nosso país era essencialmente agrário, 66,2% da população residia no espaço rural. Excluindo a produção vinícola, o país era deficitário em produtos alimentares. A organização da propriedade, a predominância de grandes proprietários agrícolas absentistas e a exploração de mão-de-obra barata em detrimento do progresso técnico, uma elevada taxa de analfabetismo contam-se como as principais causas do atraso e da dependência externa da economia portuguesa.
A indústria portuguesa em que predominavam as pequenas e micro unidades, conservava processos produtivos obsoletos e mantinha uma vocação subsidiária da agricultura ou dependente dos mercados coloniais.
Para fugir à miséria, grandes massas de camponeses de camponeses migraram para as cidades, porém, a debilidade do tecido industrial português, incapaz de absorver a mão-de-obra excedente, determinava um crescendo exponencial da emigração, na sua maioria para o Brasil.
Apesar dos constrangimentos a que me referi Portugal conheceu, nos anos que antecederam a implantação da República, um significativo processo de desenvolvimento industrial que acompanhou o desenvolvimento urbano, em particular de Lisboa e do Porto e o consequente crescimento da pequena e média burguesia ligada aos sectores dos serviços que viam na monarquia um obstáculo à sua afirmação e expansão.
Em consequência deste processo crescia o número de trabalhadores, bem como a sua concentração e, subsequente organização em associações de classe, que teve como resultado a intensificação de lutas reivindicativas. Nos últimos anos da Monarquia, os escândalos relacionados com o despesismo da casa real indignavam os sectores mais afectados pelo atraso económico e social do país, que viam na implantação da República a via para a superação do atraso de Portugal e, por essa via, a satisfação das suas reivindicações. (continua)
Aníbal C. Pires, IN DIÁRIO INSULAR, 09 de Junho de 2010, Angra do Heroísmo

1 comentário:

Maria disse...

Olha só como o agrupamento de escolas de Aveiro vai comemorar a efeméride:

http://www.publico.pt/Sociedade/criancas-vestemse-com-fardas-da-mocidade-para-reviver-100-anos-de-republica_1440933

até fiquei agoniada.

Um beijo.