segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Porreiro pá

Quem não se lembra da famosa expressão: “porreiro pá”; com que Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, e José Sócrates, primeiro-ministro português, se cumprimentaram aquando da assinatura do novo Tratado da União Europeia que ficou para a história, triste história, conhecido como o Tratado de Lisboa, assim como de um outro acto de grande impacto nas políticas da União Europeia, do qual se fez e faz grande alarde e que ficou igualmente ligado à capital portuguesa, no caso vertente, a Agenda de Lisboa, sendo que ao tempo era primeiro-ministro português António Guterres, por sinal também ele, neste caso não há dúvidas, engenheiro de formação académica e Secretário-geral do PS.
Que fatalidade histórica se terá abatido sobre Lisboa, essa mítica e encantadora cidade, para ter acolhido dois encontros ao mais alto nível de responsáveis políticos europeus e que agora estão a dar o resultado que todos sabemos, ou seja, de baixíssimo nível.
O que é que foi porreiro pá? É caso para perguntar a este dois portugueses que mais não têm feito do que contribuir para o baixo nível a que chegámos, não só em Portugal como na generalidade dos países da União Europeia. Para os europeístas convictos é chegada a altura de se começarem a interrogar sobre o próprio projecto de construção europeia que tanto defendem e, essas duas eminências pardas, que dão pelo nome de Durão Barroso e José Sócrates é-lhes exigido que respondam aos povos europeus onde estão a virtualidades de tanto porreirismo eurocêntrico.
Julgo que ainda não chegámos ao fundo, ainda não atingimos o grau zero mas para lá caminhamos a passos largos se nos resignarmos. Se não nos acautelarmos até para lá do fundo caímos, cavando com as nossas próprias mãos a ruína de um país que não é pobre, ao contrário do que sempre nos foi dito no discurso dominante, mesmo quando por cá reinou um sujeito chamado Salazar a quem sucedeu um Marcelo que não era Sousa mas Caetano e que, num dia de Abril quando os cravos floriram em Lisboa, foi de passeio até ao Brasil e o povo português encheu as ruas e acreditou. Acreditou e conquistou poder e direitos tão básicos como o acesso universal à Educação, à Saúde e à Segurança Social. A pátria madrasta que empurrava os seus filhos para a emigração e para a guerra transformou-se numa pátria acolhedora e mais justa para com todos os seus filhos.
Passados que são 36 anos sobre essa Primavera florida de vermelho Portugal transformou-se, pela mão servil dos sociais-democratas da laranja e da rosa onde pontuam os neoliberais, num país dependente, sem soberania, sem economia produtiva, curvado perante um projecto europeu construído à margem dos cidadãos e, talvez por isso, um projecto moribundo tal como o conhecemos.
José Sócrates, Silva Pereira e Teixeira dos Santos aqui há uns dias atrás surpreenderam, não os mais avisados porque disso estavam à espera e por isso se mobilizaram nas ruas para protestar contra as medidas de austeridade já anunciadas e postas em prática (PEC 1 e PEC 2), mas surpreenderam em particular os seus pares com a violência do agravamento das medidas de austeridade anunciando um PEC 3, consagrado na proposta de Orçamento Geral do Estado para 2011.
Do anúncio feito pelo Governo da República apenas quero relevar o seguinte aspecto: nem uma palavra para a economia nacional, nem uma palavra para valorizar a capacidade produtiva nacional, nem uma palavra que se aproximasse das soluções estruturais e, mesmo conjunturais para combater a crise, nada sobre isso José Sócrates disse, nada; o primeiro-ministro e as suas “damas de honor” limitaram-se a transmitir as instruções que vieram de Bruxelas, que por sua vez foram redigidas em Berlim.
Não conheço, ainda, a posição do PS Açores e do seu Presidente mas durante o dia de hoje (30 de Setembro) o incómodo nas hostes da rosa era visível e chego mesmo a perguntar-me se Carlos César foi previamente informado de que afinal os seus receios, não eram infundados quanto à possibilidade real de cortes nas transferências do Orçamento Geral do Estado para a Região, aliás preocupação partilhada por outros líderes partidários. O que o PS Açores e o seu líder não esperariam era que os cortes nas transferências fossem da iniciativa do seu iluminado e criativo líder nacional, essa figura incontornável da política nacional, que dá pelo nome de José Sócrates e que se tivesse um pingo de vergonha na cara já tinha migrado para a Covilhã – que me perdoem os beirões - para retomar a sua antiga actividade de projectista ao serviço das Câmaras Municipais para as quais já trabalhou com a qualidade que todos, ou quase todos, conhecemos.
Ponta Delgada, 30 de Setembro de 2010

Aníbal C. Pires, In A União, 03 de Outubro de 2010, Angra do Heroísmo

1 comentário:

el comunista disse...

Consulta a "achispavermelha.blogspot.com" sobre o combate á crise.

A CHISPA!