segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Talvez para a semana

Foto - Madalena Pires
Vemos, ouvimos, lemos e, constatamos que os juízos emitidos evidenciam o que de mais negativo acontece. Os atrasos da SATA sem nos lembrarmos que a pontualidade é a norma, o absentismo docente quando a assiduidade é a regra, uma indignidade ao invés de uma virtude, um mau momento por muitos momentos bons. É um processo de apreciação de algo ou de alguém, resultante da irreflexão, mas produz como efeito denegrir, penalizar, desvalorizar, magoar … É fácil reconhecer o que está mal ou menos bem, difícil é valorizar o que está bem ou menos mal.
Somos assim, não seremos todos mas somos muitos a fazê-lo. Cultivamos a maledicência. Não sei se é uma caraterística lusa e luso descendente ou se é transversal à humanidade, tenho é a convicção que não é uma qualidade humana inata. E não o sendo foi construída e é alimentada como mais uma forma de moldar a opinião pública. Se nos dizem que os docentes são faltosos e estabelecermos uma ponte com a carreira remuneratória e com os horários letivos, quem não se lembra disto, temos a opinião pública ganha para introduzir alterações que irão desvalorizar a profissão docente. Desvalorização que não produz efeitos que nos dizem serem necessários, como seja o aumento da qualidade do ensino e a redução do insucesso escolar. Bem pelo contrário a qualidade tem vindo a diminuir e os números do sucesso estão mascarados.
Qualquer processo de avaliação visa, em última instância, introduzir alterações que melhorem os desempenhos, sejam eles pessoais, empresariais, económicos, políticos etc.. Mas na verdade a avaliação tem vindo a servir para penalizar, não para transformar. A avaliação tem vindo a ser subvertida e utilizada com objetivos que não visam melhorar e transformar, visam destruir. Por isso, talvez por isso nos tenham habituado a evidenciar o que é negativo. E nem tudo é assim tão mau se desenvolvermos a capacidade de ver para além de olhar, ouvir para além de escutar e de ler para além das palavras escritas.
Ainda não percebi como raio desenvolvi este tema, não faço ideia como vou continuar e quando me aproximar do número limite de carateres, então sim é que a “porca vai torcer o rabo”.
No fundo, lá bem no fundo os primeiros parágrafos resultam, estou certo disso, de pequenos e soltos registos auditivos, escritos e do audiovisual que me causam incómodo e inquietação. Não diria que são futilidades, se o fossem não lhes daria importância, mas incomoda-me e inquieta-me ouvir ocasionalmente ou, de forma organizada e sistemática, opiniões unilaterais, parciais e, como tal, sem fundamento porque abordam apenas uma parte da questão. Sei que as análises holísticas não são compagináveis com o imediatismo, sei disso mas esse facto não desculpa a leviandade com que se produzem afirmações como se fossem verdades insofismáveis que depois se transformam em mitos que dificilmente se conseguem desconstruir. A este propósito veio-me à lembrança um pequeno “exercício” que desenvolvi com um grupo de jovens. De entre outras formulei a seguinte pergunta, Quem venceu a guerra do Vietname, a resposta foi, os americanos. Não me surpreendeu a resposta. Habituados como estavam a visionar a cinematografia de Hollywood não seria de esperar que a resposta fosse a outra, a correta.
Agora é chegado o momento em que “a porca vai torcer o rabo”. O dilema é, como vou fechar este texto. Não é um escrito qualquer, é o primeiro texto que publico em 2015 e as datas têm a sua importância, quem lê as colunas de opinião e reflexão espera sempre por mais objetividade, desde logo num texto que marca um novo ciclo anual, e o que ficou registado não passa de uma divagação de Domingo à noite. Estou aqui à procura de uma frase forte, uma palavra de esperança, uma ideia inovadora. E não acontece nada, talvez nos meus arquivos encontre, vou procurar e talvez descubra uma velha frase, uma palavra escrita com esperança, a tal ideia que podendo ser antiga possa transmitir algo que se mantém novo e ainda, por não ter sido concretizado, continue a ser inovador. Talvez para a semana já tenha encontrado algo com que vos possa surpreender, Hoje não.    

Ponta Delgada, 04 de Janeiro de 2015

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 05 de Janeiro de 2015

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