segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Não é o fado

Este texto foi escrito no dia 4 de Setembro e publicado na edição de Outubro do Jornal Açores 9.


Foi tempo de eleições. Os cidadãos, não tantos quantos seria de desejar, exerceram o seu direito de voto. Fizeram as suas escolhas na nossa empobrecida democracia. Pobre porque só apela à participação dos cidadãos em tempo de eleições. Pobre porque é mais representativa do que participativa. Pobre porque não cultiva a participação e a iniciativa popular. Pobre porque desacreditada por alternâncias de poder que nada transformam. Pobre porque descredibilizada por protagonistas que se comportam de forma bipolar, prometendo o paraíso nos jantares grátis do circo de campanha e promovendo, depois a desigualdade, a precariedade, a destruição dos serviços públicos, o desemprego, a pobreza, a exclusão.
Os cidadãos têm fortes motivos para se alhearem da participação política mas haverá, porventura, razões mais fortes para não se demitirem do exercício da sua cidadania plena. E as causas são, desde logo, a liberdade individual encarada enquanto realização colectiva do povo que somos. Liberdade que para a maioria dos portugueses está cerceada.
Temos liberdade para viajar mas quantos de nós não têm rendimento para sair para lá das fronteiras da sua própria ilha.
As prateleiras dos grandes espaços comerciais oferecem uma parafernália de produtos alimentares mas quantos de nós têm de recorrer ao banco alimentar ou ao Rendimento Social de Inserção para alimentar a família.
Temos direito à saúde mas quantos de nós não temos médico de família.
Temos direito à habitação mas quantos de nós não estamos eternamente endividados porque nos “empurraram” para a aquisição de casa própria.
Temos direito ao trabalho mas quantos de nós estamos desempregados.
Temos direito a uma renumeração justa mas quantos de nós vivem abaixo do limiar de pobreza.
Temos direito à protecção social mas são os pensionistas que engrossam os números da pobreza.
E tudo isto é fruto da política não é o infortúnio, nem o fado português, nem sequer é a crise que tudo tem desculpado.
Há outros rumos e outras políticas onde todos devem ser protagonistas na construção de um futuro diferente. Melhor!

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