quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Viroses

Carlos César, na qualidade Presidente do Governo Regional, veio a terreiro criticar a actuação e o mediatismo do médico Mário Freitas.
Tudo gira, ao que parece, à volta das críticas que profusamente Mário Freitas tem vindo a fazer à estratégia seguida pela administração regional de saúde no combate à disseminação do vírus da gripe A(H1N1). Aparentemente porque as medidas preconizadas e as críticas feitas pelo Dr. Mário Freitas não diferem tanto assim da realidade. O diferendo tem, certamente, raízes mais profundas e a razão não assiste nem à estratégia da Secretaria Regional da Saúde nem, tão-pouco, ao Delegado de Saúde em questão pois, face à disseminação do vírus da gripe A(H1N1) contribuiu, ainda mais, para um clima alarmista. Estamos a falar de um vírus com uma elevada capacidade de contágio mas cujos efeitos letais são bem menores que o vírus da gripe sazonal.
Mal, mas mesmo mal, ficam a Directora Regional e o Secretário Regional da Saúde desautorizados, que foram, com a atitude de Carlos César quando veio censurar, com a acidez que bem se lhe conhece, o excessivo mediatismo de Mário Freitas, revelando o seu incómodo pelas críticas às suas políticas de combate ao temporão e atípico vírus gripal. Este é um comportamento recorrente do Presidente do Governo Regional. Outros casos semelhantes são do domínio público.
A autoridade que emana do Palácio de Santana é intocável e para que todos percebam quem manda, eis que o Presidente Governo Regional decidiu que o Cais de Cruzeiros da Ilha Terceira se vai situar em Angra do Heroísmo.
Assim, sem mais nem menos, num exercício autoritário do poder, decidiu: “- É em Angra.”
E pronto! Angra do Heroísmo vai ter um Cais de Cruzeiros porque Carlos César assim o entende. Porquê em Angra e não na Praia? Que fundamentos presidiram a tal decisão?
Não disponho de informação suficiente para poder ter uma opinião fundamentada sobre a localização do Cais de Cruzeiros ou mesmo se a infra-estrutura deverá ser ou não, no presente, a grande prioridade de investimento público para a Ilha Terceira, mas julgo que a decisão presidencial deveria ter sido precedida de discussão pública e de uma avaliação rigorosa quer das prioridades de investimento na Terceira, quer ainda dos impactos, num e noutro local, da implantação de uma obra desta dimensão.
Este surto de atitudes autoritárias de Carlos César, como já disse, não é novo. A virose do autoritarismo contraída em 2000, com a primeira maioria absoluta, permanece em latência. O fim do ciclo eleitoral, os resultados obtidos nas legislativas e nas autárquicas pelo PS e a distância que nos separa de 2012, terão sido os factores que favoreceram a actividade do vírus adormecido e eis que o despotismo surge naturalmente nas palavras, atitudes e decisões do Presidente do Governo Regional dos Açores.
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 28 de Outubro de 2009, Angra do Heroísmo

1 comentário:

Maria Margarida Silva disse...

Oi, Aníbal!
Melhor título para este teu texto não seria fácil de encontrar!
Viroses! Não sei qual dos vírus aqui explanados me preocupa mais: se o da gripe A (H1N1) ou aquele que tem atacado forte e feio o Presidente do Governo Regional.
Senão, vejamos:
Quanto ao primeiro, muitos de nós sabemos que interesses económicos se movimentam por detrás dele! Aliás, esta gripe veio mesmo a calhar! A Roche e a Relenza, as duas maiores empresas farmacêuticas que venderam os antivirais para a gripe das aves, obtiveram milhões de dólares de lucro e, agora, estão a encher os bolsos com o famoso e contestável Tamiflú.
Não estou a pôr em causa as medidas básicas de cuidado que estão a ser tomadas pelos países. Agora, se a gripe A é uma pandemia tão terrífica, como apregoam os OCS e a OMS está tão preocupada, por que razão esta não a declara como um problema de saúde pública e autoriza o fabrico de medicamentos genéricos para combatê-la, bem como a distribuição de medicamentos genéricos gratuitos a todos os países, particularmente os mais pobres?
No Mundo, todos os anos morrem milhões de pessoas vítimas da Malária, para não falar do sarampo, da pneumonia e outras enfermidades curáveis com vacinas baratas que fomentam a morte de 10 milhões de pessoas anualmente. Disto, não falam os noticiários!!! Claro que não! Não dá lucro! A verdadeira pandemia é de lucro! Os colossais lucros dos mercenários da saúde!
As coisas não têm que ser assim e NÃO devem ser assim!
Quanto à virose que teima em permanecer no Dr. Carlos César, digamos que não é muito diferente da primeira: embora com sintomas diferentes (autoritarismo, prepotência…), não deixa, contudo, de servir interesses bem definidos e estes NÃO são, seguramente, os dos mais carenciados.Em relação à cura, bem sabemos qual é...
Desculpa, amigo Aníbal! Alonguei-me demasiado. Devia ser um breve comentário e…

Um abraço!
margarida