sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Vocação autárquica

As eleições autárquicas ditaram resultados que escaparam às previsões mais ousadas dos analistas, dos politólogos, dos partidos políticos e coligações e, quiçá, até de quem foi abençoado com o dom da adivinhação.
Na Região não se esperava um empate, porque matematicamente não era possível, e aguardava-se, legitimamente, equilíbrio no número de Câmaras conquistadas pelo PS e PSD. À medida que os resultados foram sendo conhecidos e de surpresa em surpresa os intervenientes foram apanhados desprevenidos perante o que se desenhava naquela noite eleitoral. Alguns nem tiveram tempo de se recompor da estranha sensação de terem saído derrotados ou vencedores desta contenda eleitoral. Quanto mais tempo para perceber como é que tinha sido possível um desenlace daqueles. Como é que foi possível? Como se justifica tamanho desaire? Ganhámos mas… como!?
Os resultados que se verificaram no que concerne à contabilidade das Presidências de Câmara ganhas e perdidas – 12 para o PS e 7 para o PSD – apanharam tudo e todos de surpresa e alguns dos resultados concelhios, com particular incidência em Vila Franca do Campo, merecem mesmo um aturado estudo e reflexão sobre o intrincado processo decisório dos eleitores.
O que terá pesado mais na decisão dos cidadãos? O projecto político? O futuro colectivo? A promessa… do que quer que seja? A oferta que pode ir da simples esferográfica, ao saco de cimento, aos blocos e à areia, aos electrodomésticos ou a garantia de um emprego para si ou para os seus, isto para não falar em toalhas de renda para a mesa de sala de jantar ou, das simples e vulgares t-shirts!?
Para além do espanto que constituiu o resultado das eleições autárquicas na Região, surpresa que vale o que vale, importante são mesmo as soberanas escolhas feitas pelos açorianos que, por mais que contrariem os objectivos e as expectativas político eleitorais, devem ser respeitados e aceites com humildade democrática, atitude que alguns actores políticos não souberam gerir, dissimulando muito mal o seu desagrado perante o desfecho eleitoral.
A líder do PSD Açores teve muitas dificuldades em assumir a derrota eleitoral e não conseguiu disfarçar a perturbação por ter ficado muito aquém daqueles que eram os seus objectivos eleitorais. Objectivos, já em si mesmo, pouco ambiciosos para quem se anuncia como alternativa ao actual poder regional.
Berta Cabral “demitiu-se” das suas responsabilidades regionais esquecendo os seus correligionários, que protagonizaram as candidaturas autárquicas do PSD e saíram derrotados, não lhes dirigindo uma palavra de alento e solidariedade. Berta Cabral não teve a nobreza de estender o manto da liderança sobre os seus esforçados dirigentes e militantes que se envolveram nesta batalha eleitoral e que não resistiram à eficaz máquina trituradora do partido/governo.
Ao assumir-se exclusivamente como autarca ganhadora em Ponta Delgada e escamoteando as suas responsabilidades enquanto líder partidária, Berta Cabral, demonstrou que a sua verdadeira vocação se situa ao nível da governação autárquica e, na retina dos açorianos, fica a imagem de que a alternativa política regional não se situa no PSD Açores, independentemente da personalidade que o lidera.
As alternativas políticas têm protagonistas mas o que lhes dá o verdadeiro suporte são os projectos políticos alternativos e, isso, o PSD também não tem.
Aníbal C. Pires, In A UNIÃO, 23 de Outubro de 2009, Angra do Heroísmo

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