terça-feira, 17 de novembro de 2009

Mundo unipolar

A chama da esperança que refulgiu um pouco por todo o Mundo com a eleição de Barack Obama, luz que brilhou mais nos espíritos de quem acredita em super heróis, foi-se extinguindo com o passar dos dias e dos meses, nem mesmo a atribuição do Nobel da Paz que foi assim como um reforço de super poderes, disfarça as fragilidades e a impotência do mediático inquilino da Casa Branca. Ao regozijo e à esperança sucedeu-se o tempo e com o tempo sublimaram-se as expectativas e definhou a esperança.
A eleição de Obama não deixa de ter um quê de simbólico, o que vale por si só, mas convenhamos que é muito pouco para tanto alarido e expectativa criada. Por mim, passado que é o tempo do estado de graça, não sofri nenhum tipo de desilusão pois nunca deixei de ver Obama como o “escolhido” para o contexto de crise e de anti-americanismo crescentes que se vivia. A necessidade passava pela reconfiguração do sistema e do modelo e nada melhor que voltar a dar exemplos ao Mundo. Barack Obama descendente de imigrantes africanos, com tudo o que isso significa na sociedade estado-unidense, não é mais do que o arquétipo ideal que serve de logro para manter em alta a referência dos Estados Unidos como uma sociedade onde prima a igualdade de oportunidades. Obama não é mais do que uma representação social e política para consumo interno e externo.
Com o fim da União Soviética os Estados Unidos assumiram o papel de única potência mundial a que corresponde o fim do equilíbrio bipolar que desde o fim da II Guerra Mundial caracterizou as relações internacionais o que não significa, como bastas vezes ouvimos, que deixou de haver um modelo alternativo ao capitalismo, aliás quem o afirma tende mais ou menos explicitamente levar-nos a concluir que o comunismo morreu, enquanto ideologia e modelo de desenvolvimento para a humanidade. Os tempos têm provado que nem a história nem as ideologias se finaram.
Mas essa é uma outra estória que ficará para outras abordagens e outros registos. Hoje trago algumas reflexões sobre as fragilidades do modelo unipolar, com centro nos Estados Unidos, imposto a um Mundo multipolar.
Os Estados Unidos para além da dificuldade que sempre tiveram em compreender as diferenças, ou seja, a multipolaridade do Mundo, ou ainda, se preferirmos, a linguagem silenciosa associada aos códigos culturais. Incompreensão que lhes tem trazido sérios dissabores nas incursões que amiúde levam a cabo fora das suas fronteiras, defrontam-se com outras fragilidades, quiçá mais reais mas, igualmente, pouco referidas no espaço comunicacional tido como referência:
- As dificuldades das forças armadas dos Estados Unidos na efectiva ocupação territorial das regiões e países que foram e são palco das suas intervenções bélicas;
- A debilidade da sua moeda. O valor do dólar está associado ao exclusivo que detém, desde o princípio da década de 70 do Século XX, nas transacções do petróleo. Esta exclusividade obriga a que todos os países compradores do ouro negro sejam obrigados a ter as suas próprias reservas da moeda dos Estados Unidos e é este factor, e não outro, que garante o poderio da nota verde; e
- A maior dívida externa do Mundo sendo que um dos principais credores da dívida estado-unidense é, nem mais nem menos, a China.
Considerando apenas a fragilidade monetária, que no fundo é a mais preocupante, porquanto o cenário da perda de exclusividade do dólar tem vindo a servir de ameaça por alguns dos países produtores de petróleo, mas também a ser equacionado internacionalmente a partir da deflagração da crise financeira internacional. A concretização de um panorama como aquele que enunciei constituiria a derrocada da economia estado-unidense pois o dólar deixaria de ter procura e o seu valor esfumava-se como se volatilizaram os títulos tóxicos que precipitaram a crise financeira.
Como é que os Estados Unidos vão gerir um cenário de deflação do dólar, que já não se situa apenas no campo das hipóteses, e a tendência real para a emergência de outras polaridades. E ficam como exemplo a Índia e a China para apenas referir o que os analistas, a Ocidente, consideram como potenciais concorrentes da hegemonia dos Estados Unidos. Em que é Barack Obama pode ser diferente neste cenário? E qual será o papel que nesta trama vai caber à União Europeia?
Aníbal C. Pires, IN A UNIÃO, 13 de Novembro, de 2009, Angra do Heroísmo

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