segunda-feira, 29 de maio de 2017

Opiniões (im)populares

Imagem retirada da internet
Este fim de semana foi dedicado ao cinema. Cinema em casa, uma das vantagens das novas tecnologias de comunicação e das plataformas que as utilizam para disponibilizar conteúdos cinematográficos, pagos ou não.
Ver cinema em casa não é bem a mesma coisa que ir ao cinema. Não, não é. Mas satisfaz e, por outro lado, não tenho que suportar o ruído ensurdecedor das pipocas a serem mastigadas, nem ser agredido pelos impregnados odores oleosos das pipocas que caem no chão e nas cadeiras e que os serviços de limpeza, ligeira como convém para diminuir custos, deixam por lá a degradar-se até que a atmosfera se transforme numa coisa bafienta e desagradável para o olfato.
Depois do filme se iniciar e passado algum tempo habituamo-nos, ao ruído e aos odores. As imagens, os sons e o enredo do filme despertam outros sentidos que se sobrepõem ao incómodo de uma sala bafienta frequentada por muitos apreciadores de pipocas e alguns, poucos, apreciadores da sétima arte.
Claro que esta não é uma opinião popular, assim como não são populares outras opiniões que tenho sobre os usos de espaços públicos. Nada posso, nem nada, quero fazer para alterar a impopularidade das minhas opiniões pois, estas minhas opiniões não incomodam ninguém. E os meus incómodos eu resolvo, evitando as causas que lhe estão na origem. Nem sempre é fácil, mas vou fazendo por isso, por não me deixar incomodar com comportamentos que me incomodam. Afasto-me, evito-os, ignoro-os.

Imagem retirada da internet
Tenho, contudo, outras opiniões que incomodam e também não serão muito populares. Não são populares porque não têm associado um discurso populista, isto é, não exprimem a opinião dominante que alguém, os destinatários que pretendo incomodar, se encarregou de massificar. Ainda assim insisto. Insisto não por teimosia, mesmo sendo obstinado, mas pela razão que lhes está associada.
Razões que ganham dimensão e que preocupam quem se preocupa com o presente e o futuro. Razões que não sendo populistas, mais tarde ou mais cedo, irão ganhar a popularidade que promove a necessária transformação social, sem a qual não é possível qualquer transformação política.
Em Portugal, ainda que insipiente, renasce uma nova esperança. Afinal é possível, afinal não era inevitável ter de trilhar o caminho a que nos obrigaram e que a maioria dos portugueses aceitou como sendo o único. Valeu a opinião e a luta de quem tem opiniões minoritárias e se recusa a integrar a submissão como modo de pensar e agir. Prevaleceu a insurgência e a rebeldia, prevaleceu a luta contra o diretório político e financeiro da União Europeia, prevaleceu a opinião impopular e minoritária que promoveu a mudança e fez renascer a esperança. Se estou satisfeito, Não.
E por que não estou satisfeito vou continuar fora do rebanho e a não permitir que tudo se uniformize. A diversidade é tão bem mais desafiante.
Ponta Delgada, 28 de Maio de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 29 de Maio de 2017

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