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Ver cinema em casa não é bem a mesma coisa que ir ao cinema. Não, não é. Mas satisfaz e, por outro lado, não tenho que suportar o ruído ensurdecedor das pipocas a serem mastigadas, nem ser agredido pelos impregnados odores oleosos das pipocas que caem no chão e nas cadeiras e que os serviços de limpeza, ligeira como convém para diminuir custos, deixam por lá a degradar-se até que a atmosfera se transforme numa coisa bafienta e desagradável para o olfato.
Depois do filme se iniciar e passado algum tempo habituamo-nos, ao ruído e aos odores. As imagens, os sons e o enredo do filme despertam outros sentidos que se sobrepõem ao incómodo de uma sala bafienta frequentada por muitos apreciadores de pipocas e alguns, poucos, apreciadores da sétima arte.
Claro que esta não é uma opinião popular, assim como não são populares outras opiniões que tenho sobre os usos de espaços públicos. Nada posso, nem nada, quero fazer para alterar a impopularidade das minhas opiniões pois, estas minhas opiniões não incomodam ninguém. E os meus incómodos eu resolvo, evitando as causas que lhe estão na origem. Nem sempre é fácil, mas vou fazendo por isso, por não me deixar incomodar com comportamentos que me incomodam. Afasto-me, evito-os, ignoro-os.
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Razões que ganham dimensão e que preocupam quem se preocupa com o presente e o futuro. Razões que não sendo populistas, mais tarde ou mais cedo, irão ganhar a popularidade que promove a necessária transformação social, sem a qual não é possível qualquer transformação política.
Em Portugal, ainda que insipiente, renasce uma nova esperança. Afinal é possível, afinal não era inevitável ter de trilhar o caminho a que nos obrigaram e que a maioria dos portugueses aceitou como sendo o único. Valeu a opinião e a luta de quem tem opiniões minoritárias e se recusa a integrar a submissão como modo de pensar e agir. Prevaleceu a insurgência e a rebeldia, prevaleceu a luta contra o diretório político e financeiro da União Europeia, prevaleceu a opinião impopular e minoritária que promoveu a mudança e fez renascer a esperança. Se estou satisfeito, Não.
E por que não estou satisfeito vou continuar fora do rebanho e a não permitir que tudo se uniformize. A diversidade é tão bem mais desafiante.
Ponta Delgada, 28 de Maio de 2017
Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 29 de Maio de 2017
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