segunda-feira, 26 de junho de 2017

Solidariedade permanente ou de ocasião

Foto by Diamantino Gonçalves, Serra da Maúnça, 2013
O apuramento de responsabilidades sobre as falhas verificadas nos sistemas de combate ao incêndio do Pedrógão Grande é um imperativo nacional. Que a impunidade não fique por aí à solta como o vento que soprou em todas as direções empurrando as chamas para locais inesperados, Não. Isso seria mais uma imoralidade.
Mas se estou de acordo com o que afirmei, não é menos verdade que será muito pouco se se ficar apenas por aí. Já todos percebemos, até à exaustão, que houve falhas e que os meios não foram suficientes, mas seria redutor se do apuramento de responsabilidades apenas resultasse a correção das questões conjunturais, ficando as questões estruturais e que se situam a montante, como seja a prevenção e as opções feitas na aquisição de meios e serviços de combate a incêndios e a outras situações de emergência, ficassem, como dizia, sem ser corrigidas e uma vez mais na obscena impunidade.
O tema é vasto e tem sido escalpelizado pela comunicação social, por artigos de especialistas, nas redes sociais e até pela Agnes Arabela, por isso pouco ou nada tenho a acrescentar ao assunto, a não ser enunciar algumas preocupações sobre o destino que o Estado português dá ao dinheiro que arrecada com a elevada tributação fiscal sobre os rendimentos do meu trabalho. E digo meu porque, certamente, existem outros cidadãos que não têm a mesma opinião sobre o destino que deva ser dado aos seus impostos.
Não quero que nem mais um cêntimo dos meus impostos seja canalizado para o apoio à plantação de eucaliptos em solo português. O atual primeiro ministro, em Janeiro deste ano, numa cerimónia de assinatura de um protocolo com o grupo ALTRI, no valor de 125 milhões de euros, atribuiu 18 milhões de euros, ao referido grupo, para melhorar a produtividade na plantação de eucalipto. Não senhor primeiro-ministro, dos meus impostos não. Nem para melhorar a produtividade do eucalipto, ainda que não seja aumentada a área do eucaliptal, nem para o Grupo ALTRI. Porque raio de razão, senhor primeiro-ministro, os impostos cobrados sobre o meu trabalho são canalizados para grupos e empresas privadas.

Imagem retirada da internet
Há um outro aspeto sobre o qual não posso deixar de expressar o meu desagrado, embora tenha uma opinião contrária à Agnes Arabela, não é sobre o que essa personalidade regurgitou, algures por aí, que me vou pronunciar. Cá por mim ficava satisfeito se os bombeiros portugueses ganhassem o dobro e ficassem a “coçá-los”, em vez de 9 meses, o ano inteiro. Isso significaria que as medidas preventivas estavam a dar resultados e que as populações que vivem em zonas de floresta podiam dormir descansadas, também no Verão.
Quero referir-me às ondas de solidariedade cidadãs e espontâneas, o que é bom, e momentâneas, o que não é tão bom assim, que se multiplicam para apoiar e reconhecer os bombeiros portugueses durante os períodos em que são visíveis, por um lado a sua importância e, por outro a falta de apoios públicos.
A maior parte destas iniciativas de solidariedade são genuínas e é bom que assim aconteça, não ficamos indiferentes, somos solidários e, sobretudo, ficamos bem com a nossa consciência. Representando muito, não é tudo, mas ainda assim é pouco, muito pouco.
Solidariedade com os bombeiros, SIM. Solidariedade todo o ano, por isso sou associado dos bombeiros da minha área de residência.  E você é sócio. Não, então associe-se, deixe-se de tretas e não se fique pelo momento, esteja sempre presente ao lado dos seus bombeiros.
Ponta Delgada, 25 de Junho de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 26 de Junho de 2017

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