Outros políticos e pensadores desenvolveram esta temática, Eduardo Galeano tem uma excelente reflexão, como só ele era capaz de o fazer, sobre o medo o seu efeito castrador e de dominação do poder sobre os cidadãos e os povos. Naomi Klein produziu um excelente estudo, “Doutrina/Teoria do Choque”, em que demonstra que é durante e num breve espaço de tempo após uma situação de cataclismo ou de terror, ou seja, quando as populações estão mais fragilizadas e têm a sua atenção centrada na sua própria sobrevivência, que as medidas políticas e económicas mais retrógradas são implementadas e até aceites e apoiadas pelas populações.
O terror provoca o choque e o medo, o medo induz comportamentos passivos e pouco racionais, como por exemplo, a aceitação e apoio à construção de um muro na fronteira do México com os Estados Unidos, ou a onda xenófoba, racista e islamofóbica que se vive no chamado Mundo Ocidental. E não, Não se trata de um choque de civilizações ou de um conflito religioso, como por vezes nos querem fazer crer, se assim fosse o Mundo Ocidental estaria em guerra aberta com a Arábia Saudita, este sim um verdadeiro estado islâmico. Mas não, aliás como pudemos recentemente verificar com a visita de Donald Trump e com os negócios realizados entre os dois países, a maior venda de armamento dos Estados Unidos à Arábia Saudita. Mas este não é o assunto que hoje quero desenvolver, o que não significa que não lhe atribuo importância ou, que a ele não regressarei, até porque algo de insólito aconteceu lá para os lados do Golfo Pérsico. Bahrein, Egito, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Iémen cortaram relações diplomáticas com o Qatar.
Os atentados terroristas acontecem quase diariamente, bem se contabilizarmos todos os atos que infligem sofrimento e terror sobre a população, em qualquer parte do Mundo, então a frequência é tal que diria que os atos terroristas já fazem parte do nosso quotidiano, banalizaram-se. Ainda há alguns minutos foi noticiado mais um incidente, desta vez em Paris, no exterior da catedral de Notre Dame. Não sei mais pormenores, mas para todos os efeitos é mais um momento de terror. Que o digam os cidadãos que estão no interior da catedral e o agente da polícia que foi atacado.
O que resulta de um ato terrorista é o medo, com a alteração do modus operandi, o medo generaliza-se, cresce, sufoca, tolda o pensamento e a vontade. As medidas que vierem a ser implementadas para combater o terror serão aceites sem oposição. A nossa história recente está recheada de exemplos que o comprovam. Sendo que a invasão do Iraque, em 2003, é o paradigma da construção mediática de uma mentira aceite, pela generalidade da opinião pública mundial, como uma verdade. Verdade que justificou a invasão. O que ficou diferente, Tudo. Tudo ficou pior para o povo iraquiano que ainda está a pagar o tributo imperial aos seus invasores.
Sobre muitos dos atentados ocorridos nas capitais europeias, desde os mais recentes, a outros dos quais já nem lembramos, pendem muitas dúvidas sobre a sua veracidade, não da sua veracidade como um evento terrorista, mas sobre os verdadeiros mentores do ato. O jornalista free lancer John Pilger tem alguns artigos interessantes sobre esta temática, bem assim como o sítio canadiano na internet Global Research. As false flags são prática comum executadas por organizações a soldo de interesses que não são, propriamente, os interesses da humanidade.
Sobre o recente ato terrorista de Manchester pendem algumas dúvidas. Os rapazes de Manchester, todos eles referenciados, pelos serviços e inteligência ingleses e estado-unidenses, todos eles a movimentarem-se sem qualquer restrição.
E aconteceu,
Aconteceu mais uma noite de terror, o choque abateu-se, uma vez mais sobre nós, o medo cresceu e com ele ampliaram-se as condições para o domínio e o controle dos cidadãos.
Ponta Delgada, 06 de Junho de 2017
Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 07 de Maio de 2017
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