Alguns responsáveis políticos, em particular os membros do Governo Regional e o seu exército de apaniguados analistas e politólogos, teimam em afirmar que a crise nos Açores é sobretudo de confiança e, por essa razão mais de ordem psicológica do que efectiva. Bem! Não querendo contribuir para os aumento da subjectividade tenho de reafirmar que discordo desta visão, podendo até compreendê-la. Quando olho ao meu redor e analiso os indicadores só posso concluir que objectivamente os efeitos da crise são bem reais e se têm agravado, por muito que se tente afiançar que o problema é mais anímico do que concreto.
E se este agravamento resulta, ainda, do contexto da crise internacional não posso deixar de constatar, também, que para lá dos efeitos de conjuntura a crise tem raízes mais profundas e que os seus efeitos sobre a economia regional e o bem estar social e económico dos cidadãos se relacionam directamente com um modelo de desenvolvimento errado, social e economicamente injusto, reprodutor de desigualdades e fortemente depredador dos recursos naturais e, por conseguinte, insustentável.
O grave e dramático pesadelo do desemprego, da precariedade, dos salários e outras prestações pecuniárias em atraso, das ameaças de despedimento e do lay-off dizem bem quanto à insuficiência e ineficácia das medidas anti-crise postas em prática quer na Região, quer na República e à urgente necessidade de adoptar um paradigma de desenvolvimento devidamente adequado à realidade regional.
Ainda que tardias e insuficientes, as intervenções realizadas pelo Governo Regional na SINAGA e na Verdegolf são positivas, lamento é a inércia do executivo quanto ao que se verifica na unidade fabril da COFACO, no Faial. Que o seu anunciado de encerramento e da consequente deslocalização das trabalhadoras para a fábrica do Pico, não seja alvo de medidas que contrariem a decisão da empresa, afinal há responsabilidades empresariais que decorrem do acesso aos fundos públicos para o financiamento da actividade económica privada.
A intervenção pública e consequente afastamento das administrações privadas das empresas SINAGA e Verdegolf e a sua substituição por administrações públicas comprovam que as teses de matriz neoliberal advogadas por alguns teólogos do mercado da nossa ágora estão esgotadas e falidas pois, como se pode apurar, a simples substituição das administrações constituíram-se, desde logo, como um factor determinante para a tão desejada viabilidade económica das duas empresas.
Quanto ao encerramento da fábrica da COFACO, na ilha do Faial, importa dizer que, por um lado a legitimidade que decorre desta decisão empresarial, na qual o Governo Regional se tem escudado para não intervir, demonstra bem a iniquidade do Código Laboral que está em vigor mas, também, o prejuízo que resulta quando se aplicam linearmente normativos e modelos à realidade insular e arquipelágica açoriana, por outro lado e tendo em consideração os avultados financiamentos públicos que foram afectos à COFACO, nomeadamente às suas instalações no Faial, e os erros de gestão patrimonial e de desinvestimento traduzidos no falta de manutenção e de modernização daquela unidade fabril são fundamento suficiente para que a Região intervenha evitando, assim, o despedimento de dezenas de trabalhadoras e o aumento da fragilidade da economia faialense.
Aníbal C. Pires, IN A UNIÃO, 08 de Março de 2010, Angra do Heroísmo
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