Ao que parece o pilar da estratégia de desenvolvimento do sector turístico na Região ameaça ruir, isto se é que não ruiu já, ou se é que alguma vez chegou a ser sustentáculo do que quer que seja. Cá por mim continuo a achar que esta coluna dorsal de desenvolvimento do turismo regional nunca passou das intenções e dos devaneios megalómanos de quem se limita a fazer “copy/past” de modelos desenhados para outras geografias.
Passados que são alguns anos e muitos milhões de euros o golfe em S. Miguel vê-se a braços com enormes dificuldades e a Região lá vai em seu socorro. A intervenção na empresa que detêm os Campos de Golfe da Batalha e das Furnas anunciada recentemente pelo Governo Regional tem alguns aspectos que não posso deixar de saudar: a garantia dos postos de trabalho e dos salários dos trabalhadores e, por fim, dar alguma utilidade à Sociedade Ilhas de Valor, SA.
Segundo o Governo Regional esta é uma medida inovadora. Não percebi muito bem onde está a novidade no processo de assunção pública dos prejuízos e na devolução ao sector privado quando a “crise” passar. Ainda que a intervenção anunciada por Sérgio Ávila, Vice-presidente do Governo Regional, possa ter alguns contornos que a diferenciam de outras que tiveram lugar na Região e no País a verdade é que, uma vez mais, se trata da aplicação de um princípio que nos últimos meses tem sido recorrente – nacionalizar o prejuízo para mais tarde reprivatizar o lucro.
Das justificações dadas por Sérgio Ávila para sustentar a decisão do Governo lá vieram os estafados argumentos da crise e da comparação com outras regiões e países. Sem querer minimizar a crise mundial e os efeitos que ela produz penso que os problemas que afectam o sector do turismo e neste particular o golfe, se situam a montante da crise.
A diversificação da actividade económica e a aposta estratégica no turismo é em si mesmo uma iniciativa merecedora de apoio mas, como tudo o que tem a ver com o desenvolvimento regional e a utilização dos dinheiros públicos, sujeita a alguns princípios e condicionalismos.
A opção por um modelo de desenvolvimento turístico ancorado no jogo de casino e no golfe associado a unidades hoteleiras de grande dimensão e a sua aplicação linear numa região insular e arquipelágica situada nesta zona do Atlântico Norte que, como sabemos, está fortemente condicionada por factores meteorológicos de grande instabilidade, sempre me suscitou muitas dúvidas e críticas e, por esse motivo continuo a ter as mais sérias reservas em relação aos investimentos previstos para a construção de mais infra-estruturas para a prática de golfe.
Os Açores têm um natural potencial turístico fundado nas suas singularidades geográficas, climáticas e patrimoniais as quais se devem constituir como o princípio a que deve obedecer todo o planeamento para este sector, os condicionalismos a que atrás me referi decorrem da preservação do que nos torna diferentes e por isso capazes de competir com outros destinos turísticos. Neste sector, como noutros, a afirmação do produto Açores terá ser feita pela excelência e pela singularidade e não pela importação de modelos desenhados para outras latitudes e longitudes.
1 comentário:
Olá, Aníbal!
Ninguém tem dúvidas, penso eu, de que os Açores têm um potencial turístico que deve ser explorado. Agora, há que implementar uma política de bom senso, que passa por prioridades e condicionalismos, condicionalismos esses que referes e que têm a ver, de entre outros, com factores meteorológicos instáveis, a extensão da Ilha e a dimensão da procura.
Será basilar a implementação de casinos na Região? E as dificuldades com que se está a debater, neste momento, o golfe, em S. Miguel? Será producente investir em mais infra-estruturas nesse sector? Para quê? Só para se dizer que há “obra” feita?
Bem sabemos que a produção de postos de trabalho é uma mais-valia, mas não haverá outra forma de criá-los, para não estarmos, mais tarde, a braços com mais um grave problema de desemprego?
O célebre Hotel Cantagalo, na Ilha Terceira, será uma prioridade? Quanto dinheiro já foi dispendido em tal estrutura hoteleira? E para quê uma estrutura daquela amplitude?
Estará o governo a imitar modelos que não se adaptam à nossa realidade ou tratar-se-á de mais um “devaneio megalómano”, como dizes e muito bem?
“O mal da grandeza é quando ela separa a consciência do poder.”
W.Shakespeare
Um abraço.
margarida
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