segunda-feira, 22 de março de 2010

O Dia da Saia

A ausência de reconhecimento social da Escola associada à desvalorização pessoal e profissional dos educadores e professores e ao profundo ataque à Escola Pública que tem como finalidade a emergência de um sistema educativo onde a paridade do investimento no sector público e privado se institucionalize, em nome de uma suposta liberdade de escolha e que os sabujos ao serviço do “regime” tanto apregoam, a par das profundas alterações sociais que se têm verificado no país e que, inevitavelmente, foram transportadas para a Escola alterando-lhe profundamente o objecto só poderia ter um resultado. Um mau resultado.
Hoje tudo se pede e exige à Escola Pública e nada se acrescenta! 
Esta é uma realidade que os professores portugueses tão bem conhecem e que a sociedade, devido a acontecimentos recentes começa a interiorizar que algo tem de mudar e, que a Escola e os professores têm de ser devidamente reconhecidos e dignificados, este será o retomar do caminho para que a autoridade lhes seja devolvida estão na génese de muitos dos problemas com que a Escola Pública se confronta.
E é bom que nos vamos convencendo que a Escola não pode, não deve, ir além da sua função. A Escola, não substitui a família, não substitui a sociedade na necessária socialização e formação básica das suas crianças. Quando assim acontece - e de há muito que está a acontecer -, o resultado é o que os profissionais da educação conhecem e com o qual lidam diariamente.
Bem! Tudo isto a propósito do filme de Jean-Paul Lilienfeld, “O Dia da Saia”.


Num momento em que no espaço público regional e nacional a questão da “autoridade do professor” faz notícia e produz apaixonadas discussões deixo aqui a sugestão. Não deixem de ver este magnífico filme.



Se é certo que a turma da professora Sonia Bergerac (Isabelle Adjani) tem particularidades que se prendem com questões da interculturalidade e da inclusão de descendentes de imigrantes na escola e na sociedade que os acolheu (ou aos seus progenitores) e os paradoxos entre a matriz cultural que carregam, quantas vezes traduzidos em comportamentos identitários disfuncionais, e o permanente confronto com a Escola (instituição) à qual, da mesma forma que os autóctones, não reconhecem valor, não deixa de ser menos verdade que este filme transmite, a momentos, uma realidade com a qual a maioria dos professores portugueses se confronta – a indisciplina, o desinteresse e a rejeição.
Se há 3 décadas atrás a passagem pela Escola era uma garantia de emprego e ascensão social a actualidade é bem diferente. Outros paradigmas urgem!

1 comentário:

Maria Margarida Silva disse...

Olá, Aníbal!
Depois de ler o teu texto, seleccionei as frases ou ideias que iria comentar. Sem querer desestimar todas as outras, há dois aspectos extremamente importantes a salientar e que exigem da nossa parte alguma atenção:
- “Hoje tudo se pede e exige à Escola Pública e nada se acrescenta!”
-“A Escola, não substitui a família, não substitui a sociedade… Quando assim acontece… é o que os profissionais da educação conhecem.”
Pois bem! A escola existe para educar os filhos, mas essa mesma escola não deixa de afectar os pais. Logo, é difícil, por vezes, para muitos destes, aprender de imediato, por um lado, o que a escola espera dos seus educandos e, por outro, o que a mesma espera deles.
A investigação que existe, de um modo geral, prova que quanto mais estreita é a relação Escola/Família, maior é o sucesso educativo. Agora, sucesso em relação a que objectivos da instituição?
Sucesso nas aprendizagens imediatas ou na sua utilização?
Sucesso na integração social?
Será a escola rica de vivências, estimulante, facilitadora do desenvolvimento da personalidade dos seus alunos?
Será que os considera como seres sociais que têm que construir a sua educação no contacto constante com a realidade, os seus antagonismos e contradições?
Que apoios governamentais têm tido os professores, ao longo destes anos?
Uma árvore não faz a floresta e o insucesso escolar é uma floresta densa e intrincada, composta de diversas árvores.
O importante é encontrar as pistas de explicação comuns, identificar os OBSTÁCULOS ao sucesso de modo a construir uma escola mais democrática, em inter-relação com as necessidades de alunos diversos e com as respectivas características socioculturais. Para isso, é indispensável o empenhamento de todos os actores/agentes de ensino: alunos, professores e encarregados de educação.
Só com o trabalho conjunto se vai fazendo caminho e este faz-se caminhando. Contudo, temos que saber por onde vamos e para isso há que criar horizontes, metas e quem nos leve a bom porto (o que não acontece, como sabemos…).
Hoje, tudo se pede aos professores: que ensinem, eduquem, ocupem, cuidem, sancionem, policiem, integrem, julguem!
Que socializem, estudem, eduquem para a cidadania!
Que sejam instrutores, educadores, amigos, companheiros, PAIS!
Que diferenciem o ensino, que promovam experiências educativas pertinentes, relevantes, contextualizadas!
Que escutem, dialoguem, compreendam, atendam!
E, neste trabalho tenso – intenso, neste contínuo saltitar de turma em turma, de olhar em olhar, de súplica em súplica. Sempre com a dúvida, com a incerteza. No sofrimento de estar, muitas vezes, só e abandonado. De estar só e muitas vezes criticado. E mesmo DESAUTORIZADO pelos poderes públicos.
É urgente desregular o quadro depressivo onde esta classe, tão apedrejada e espezinhada pelo poder político, se vai perdendo! E isto só será possível com o verdadeiro empenho de todos!
É preciso revigorar, constantemente, o alerta feito por Paulo Freire, em 1997, na “Pedagogia da autonomia” (última obra por ele lançada ainda em vida):
“ Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor de não importa o quê. Não posso ser professor a favor simplesmente do Homem ou da Humanidade (...) Sou professor a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda.”

Um abraço.

margarida

P.S. Quanto ao filme, podes crer que não o vou perder. Obrigada pela sugestão e... desculpa este texto tão longo, mas "passo-me" quando falo na nossa classe.