sábado, 27 de janeiro de 2018

É este o tempo de dizer, Basta - crónicas radiofónicas

Foto by Aníbal C. Pires (2017)





Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105FM

Hoje fica o texto da crónica emitida a 18 de Novembro de 2017 que pode ser ouvida aqui










É este o tempo de dizer, Basta

Nestes breves minutos que hoje partilho consigo é incontornável não me referir aos motivos que estão na origem da greve geral dos educadores e professores. Greve que não tendo tido grande expressão nos Açores, constituiu uma demonstração nacional de que chegou a altura em que os docentes estão a dizer basta. Basta de os continuarem a maltratar e a exigir o que eles não podem dar.
Partilho esta questão consigo, desde logo, porque sou professor, mas também porque fui aluno e encarregado de educação. Mas faço-o, sobretudo, porque sou um cidadão que não abdica de ter opinião sobre as condições de trabalho dos educadores e professores, as suas carreiras e os efeitos perversos que a desvalorização, material e imaterial, da profissão docente tem na qualidade do ensino na Escola pública.
A relação não é direta, mas ninguém espere que um grupo de profissionais, que desde de 2009 não tem uma atualização salarial e, que desde de 2011 tem congelado o tempo de serviço e a progressão nas carreiras, esteja motivado para o desempenho da sua profissão. Isto para além das alterações ao regime de aposentação, à funcionalização da docência, à sobrecarga horária, às alterações ao modelo de formação contínua, ao desinvestimento na Escola pública.
São estes cidadãos, os educadores e professores, que acolhem diariamente os nossos filhos e que se desdobram em estratégias para superar as ausências, desde logo, a ausência da maioria das famílias no acompanhamento do percurso escolar dos filhos ou educandos. Famílias que se demitiram do seu papel na educação dos filhos e exigem à Escola que as substitua, sabendo-se que a família não é, de todo, prescindível no processo de desenvolvimento e estruturação psicológico das crianças e jovens.
São estes cidadãos, os educadores e professores, que diariamente superam os efeitos do desinvestimento na Educação e criam as condições para poderem exercer a sua profissão. Não é fácil, nada fácil.
E já reparou que quando deixa os seus filhos na Escola encontra lá educadores e professores que mais parecem os avós dos seus filhos. Mas não são os avós dos seus filhos, note bem, embora já tenham netos, idade e tempo de serviço para estarem aposentados. E estariam reformados não tivesse sido a quebra, pelo Estado, das regras da aposentação que prejudicaram todos os docentes, mas que penalizam em particular os educadores e os professores do 1.º Ciclo do Ensino Básico que não usufruindo das reduções de horário letivo se aposentam com a mesma idade.
O envelhecimento dos educadores e professores constitui uma questão que não é despiciente. Está a dizer-me que nunca tinha pensado nisso, mas é bom que pense pois trata-se de quem procura, com um grande esforço, ensinar os seus filhos que nem sempre estão disponíveis e recetivos para ouvir um sexagenário professor.
Os educadores e professores lutam pela sua dignidade profissional. Mas esta é, também, uma luta de todos os que acreditam na Escola como pilar estruturante da sociedade, uma luta de todos quantos depositam confiança nos educadores e professores quando, pela manhã, deixam os seus filhos e educandos na Escola.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 18 de Novembro de 2017

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