sábado, 10 de fevereiro de 2018

Novo ciclo. Onde estás que não te encontro - crónicas radiofónicas

Foto by Aníbal C. Pires



Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105FM

Hoje fica o texto da crónica emitida a 2 de Dezembro de 2017 que pode ser ouvida aqui





Novo ciclo. Onde estás que não te encontro

Encerrado o processo de apresentação, discussão e votação do Plano e Orçamento da Região Autónoma dos Açores estou confrontado com uma enorme dificuldade, ou mesmo uma missão impossível. Por mais que procure não encontro, o novo ciclo. Nem um vestígio, um sinal que seja do que foi enfaticamente anunciado pelo Governo Regional e do qual o Grupo Parlamentar do PS se encarregou, essa é uma das suas missões, de fazer de câmara de ressonância ampliando a ideia, do tal novo ciclo.
Não encontro e não é por má vontade, que eu até sou um homem de boa vontade, nem por não ter procurado, eu bem procurei. E não foi pouco. Não encontrei muito simplesmente porque esse tal de “novo ciclo” não existe, não consta nem do Programa Anual, nem do Orçamento Regional. O novo ciclo só existe nas frases de propaganda do Governo e do Grupo Parlamentar do PS.
Mesmo não tendo encontrado sinais do novo ciclo não desisti de procurar.
Indaguei por um pormenor que fosse que indiciasse uma novidade, procurei por uma pequena inflexão às opções políticas que diferenciasse o Plano e o Orçamento para 2018 dos que o precederam, Nada. Não encontrei nada que se assemelhe a uma pequena diferença que seja.
Mas se quanto ao conteúdo e à forma a proposta de Plano e Orçamento não passam de velhas e requentadas opções políticas e económicas, não se pode dizer o mesmo do conteúdo e forma como decorreu o debate parlamentar e, sobretudo, sobre o desfecho da votação dos dois diplomas que estiveram à discussão, durante esta semana, na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.
A ausência do deputado do PCP, justificada pelas razões que se conhecem, empobreceu o debate e demonstrou, ainda que por falta de comparência, a importância das propostas que sinalizam a alternativa e a rutura com opções, que sendo do PS poderiam ser subscritas pelos partidos da direita parlamentar.
Por outro lado, o que até à discussão do anterior Plano Orçamento era regimentalmente inalterável, deixou de o ser. A sessão plenária foi antecipada o que evitou a irracional maratona pela madrugada de sexta-feira dentro. Este é o registo positivo.
O Plano e Orçamento para 2018 foi aprovado apenas com os votos favoráveis do partido que suporta o Governo Regional.
Não terá sido a primeira vez que tal sucedeu, mas já não acontecia há muito tempo.
Este sim é um sinal diferenciador, um sinal que pode indiciar que estamos no limiar de um novo ciclo político para a Região Autónoma dos Açores.
O isolamento do PS, na votação do Plano e Orçamento para 2018, não é um facto despiciente.
E não o é porque não resulta de uma posição irredutível e dogmática das oposições, mas da incapacidade do PS para estabelecer pontes e promover o diálogo e o entendimento com os partidos do espetro parlamentar regional.
Mas o PS e o seu Governo não só estão mergulhados num processo de gradual isolamento politico, como também de isolamento social.
Sim, eu sei. O PS ganhou eleições há pouco mais de um ano atrás e os indicadores sociais e económicos têm vindo a melhorar nos últimos 2 anos. É inegável.
Mas já se perguntou se essa melhoria resulta diretamente da governação do PS Açores, ou se pelo contrário foram as alterações ocorridas na República que contribuíram para essa melhoria, a par de um contexto externo que favoreceu essa alteração positiva, mas longe de nos deixar satisfeitos.
Quanto ao facto do PS ter renovado a sua maioria absoluta em Outubro de 2016 isso fica dever-se mais ao demérito das oposições do que ao mérito do PS, para além da influência nos resultados eleitorais que a teia de dependências que o partido no poder estende a toda a sociedade açoriana asfixiando-a e controlando-a.
Sei que está a usufruir de um fim de semana prolongado e talvez devesse ter trazido um outro assunto para partilhar consigo, mas a oportunidade era hoje.
Fique bem e divirta-se.
Eu volto no próximo sábado.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 02 de Dezembro de 2017

Sem comentários: