Foto by Aníbal C. Pires |
Podendo concordar com os princípios e preocupações que estão subjacentes às medidas anunciadas quer-me, no entanto, parecer que existem algumas insuficiências nesta reestruturação que foi anunciada. Falta, desde logo, um eixo para a Qualificação e Formação dos trabalhadores do setor. Vá-se lá saber porquê.
As medidas anunciadas denotam, uma vez mais, que o Governo Regional está a agir por reação, e que sobre o setor não tem uma visão política de futuro, apesar da sustentabilidade aparecer como uma grande preocupação e, mesmo aquilo que possa parecer novidade no discurso do Presidente do Governo Regional, ou seja, a introdução do conceito de sustentabilidade social traduzida na necessidade de uma Convenção Coletiva de Trabalho para o setor. Mas nem sequer isto é uma novidade pois, a Lei n.º 15/97, de 31 de Maio de 1997, proposta pelo PCP, consagra de entre outras medidas a obrigatoriedade de contrato de trabalho para os pescadores. Lei que nunca foi aplicada na Região, a não ser a comemoração do Dia do Pescador (31 de Maio) que a Lei também instituiu.
Foto by Aníbal C. Pires |
Os quatro eixos apresentados terão todos eles relevância, já as medidas apresentadas para os concretizar enquadram-se numa matriz política de destruição da nossa economia produtiva, como seja essa espécie de resgate que constitui o Regime de Apoio à Cessação Definitiva da Atividade da Pesca.
Uma vez mais a velha fórmula de pagar para não produzir, todos conhecemos os efeitos destas opções. Esta solução encontrada nos velhos compêndios de Cavaco Silva é justificada, pelo Governo Regional, com o sobredimensionamento e outras características da frota pesqueira regional. Mais uma falácia para justificar, por um lado a abertura dos mares ocidentais às frotas de pesca europeias, e por outro a falência das políticas regionais de apoio à reconversão e modernização da frota pesqueira regional. Das 550 embarcações registadas nos portos açorianos 60% estão alocadas à pesca artesanal, este número diz bem do que não foi feito nos últimos 25 anos (idade média da frota regional segundo o Governo Regional).
Ponta Delgada, 18 de Março de 2018
Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 19 de Março de 2018
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