quarta-feira, 3 de março de 2010

O “green” secou

Ao que parece o pilar da estratégia de desenvolvimento do sector turístico na Região ameaça ruir, isto se é que não ruiu já, ou se é que alguma vez chegou a ser sustentáculo do que quer que seja. Cá por mim continuo a achar que esta coluna dorsal de desenvolvimento do turismo regional nunca passou das intenções e dos devaneios megalómanos de quem se limita a fazer “copy/past” de modelos desenhados para outras geografias.
Passados que são alguns anos e muitos milhões de euros o golfe em S. Miguel vê-se a braços com enormes dificuldades e a Região lá vai em seu socorro. A intervenção na empresa que detêm os Campos de Golfe da Batalha e das Furnas anunciada recentemente pelo Governo Regional tem alguns aspectos que não posso deixar de saudar: a garantia dos postos de trabalho e dos salários dos trabalhadores e, por fim, dar alguma utilidade à Sociedade Ilhas de Valor, SA.
Segundo o Governo Regional esta é uma medida inovadora. Não percebi muito bem onde está a novidade no processo de assunção pública dos prejuízos e na devolução ao sector privado quando a “crise” passar. Ainda que a intervenção anunciada por Sérgio Ávila, Vice-presidente do Governo Regional, possa ter alguns contornos que a diferenciam de outras que tiveram lugar na Região e no País a verdade é que, uma vez mais, se trata da aplicação de um princípio que nos últimos meses tem sido recorrente – nacionalizar o prejuízo para mais tarde reprivatizar o lucro.
Das justificações dadas por Sérgio Ávila para sustentar a decisão do Governo lá vieram os estafados argumentos da crise e da comparação com outras regiões e países. Sem querer minimizar a crise mundial e os efeitos que ela produz penso que os problemas que afectam o sector do turismo e neste particular o golfe, se situam a montante da crise.
A diversificação da actividade económica e a aposta estratégica no turismo é em si mesmo uma iniciativa merecedora de apoio mas, como tudo o que tem a ver com o desenvolvimento regional e a utilização dos dinheiros públicos, sujeita a alguns princípios e condicionalismos.
A opção por um modelo de desenvolvimento turístico ancorado no jogo de casino e no golfe associado a unidades hoteleiras de grande dimensão e a sua aplicação linear numa região insular e arquipelágica situada nesta zona do Atlântico Norte que, como sabemos, está fortemente condicionada por factores meteorológicos de grande instabilidade, sempre me suscitou muitas dúvidas e críticas e, por esse motivo continuo a ter as mais sérias reservas em relação aos investimentos previstos para a construção de mais infra-estruturas para a prática de golfe.
Os Açores têm um natural potencial turístico fundado nas suas singularidades geográficas, climáticas e patrimoniais as quais se devem constituir como o princípio a que deve obedecer todo o planeamento para este sector, os condicionalismos a que atrás me referi decorrem da preservação do que nos torna diferentes e por isso capazes de competir com outros destinos turísticos. Neste sector, como noutros, a afirmação do produto Açores terá ser feita pela excelência e pela singularidade e não pela importação de modelos desenhados para outras latitudes e longitudes.

1 comentário:

Maria Margarida Silva disse...

Olá, Aníbal!

Ninguém tem dúvidas, penso eu, de que os Açores têm um potencial turístico que deve ser explorado. Agora, há que implementar uma política de bom senso, que passa por prioridades e condicionalismos, condicionalismos esses que referes e que têm a ver, de entre outros, com factores meteorológicos instáveis, a extensão da Ilha e a dimensão da procura.
Será basilar a implementação de casinos na Região? E as dificuldades com que se está a debater, neste momento, o golfe, em S. Miguel? Será producente investir em mais infra-estruturas nesse sector? Para quê? Só para se dizer que há “obra” feita?
Bem sabemos que a produção de postos de trabalho é uma mais-valia, mas não haverá outra forma de criá-los, para não estarmos, mais tarde, a braços com mais um grave problema de desemprego?
O célebre Hotel Cantagalo, na Ilha Terceira, será uma prioridade? Quanto dinheiro já foi dispendido em tal estrutura hoteleira? E para quê uma estrutura daquela amplitude?
Estará o governo a imitar modelos que não se adaptam à nossa realidade ou tratar-se-á de mais um “devaneio megalómano”, como dizes e muito bem?


“O mal da grandeza é quando ela separa a consciência do poder.”
W.Shakespeare

Um abraço.
margarida