quarta-feira, 21 de março de 2018

Da poesia 1 - Sophia de Mello Breyner Andresen

Sophia de Mello Breyner Andresen (imagem retirada da Internet 






Hoje assinala-se o Dia Mundial da Poesia e o momentos associa-se a este dia com diversas publicações.

O Dia Mundial da Poesia celebra-se todos os anos em 21 de março.
A data foi criada na 30ª Conferência Geral da UNESCO em 16 de Novembro de 1999.








Esta Gente

Esta gente cujo rosto 
Às vezes luminoso 
E outras vezes tosco 

Ora me lembra escravos 
Ora me lembra reis 

Faz renascer meu gosto 
De luta e de combate 
Contra o abutre e a cobra 
O porco e o milhafre 

Pois a gente que tem 
O rosto desenhado 
Por paciência e fome 
É a gente em quem 
Um país ocupado 
Escreve o seu nome 

E em frente desta gente 
Ignorada e pisada 
Como a pedra do chão 
E mais do que a pedra 
Humilhada e calcada 

Meu canto se renova 
E recomeço a busca 
De um país liberto 
De uma vida limpa 
E de um tempo justo 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia" 

1 comentário:

Maria Margarida Silva disse...

A escrita de Sophia de Mello Breyner foi feita para ser compreendida por toda a gente. Daí, ser tão simples e pura. "A arte deve ser livre, porque o ato de criação é em si um ato de liberdade", escreveu, num dos seus artigos." À poesia, encontrou-a antes de saber que existia a literatura, disse um dia. Sempre lhe foi natural. Nela, está bem patente o carácter social e a denúncia a qualquer tipo de ataque à dignidade humana (cujo estilo se acentuou durante o período que antecedeu o 25 de abril de 1974). "Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo", escreveu sobre esse dia de abril.
Ainda agora, a intervenção de Sophia subsiste. Exemplo disso é a presença de algumas afirmações suas: "a poesia está na rua"! "A cultura é cara, a incultura é mais cara ainda" "Quando a Arte não é livre, o povo também não é livre. Onde o artista começa a não ser livre, o povo começa a ser colonizado e a justiça torna-se parcial, unidimensional e abstrata. Se o ataque à liberdade cultural me preocupa tanto é porque a falta de liberdade cultural é um sintoma e significa sempre opressão para um povo inteiro". Bela escolha, Aníbal, para assinalar o Dia Mundial da Poesia! Um abraço. Margarida