segunda-feira, 2 de abril de 2018

Ponta Delgada 472 anos de cidade

Foto by Aníbal C. Pires


A cidade de Ponta Delgada, onde vivo há 35 anos, está a comemorar o seu 472.º aniversário. O momentos assinala este dia com dois pequenos textos em que esta cidade é tema central.
Ficam aqui os dois apontamentos, o primeiro é um excerto dum texto escrito em Novembro de 2009, o segundo, Cidade com portas e mar, está publicado no livro de poemas "O Outro Lado" (2014) ilustrado a aguarelas por Ana Rita Afonso.








(...) Há cidades míticas, cidades património, cidades ordenadas e desordenadas, megacidades, cidades capitais económicas, políticas e culturais, cidades comerciais, cidades industriais, cidades do pecado e do prazer, cidades de oportunidades, cidades tranquilas, cidades seguras e inseguras, cidades com alma e sem alma e há… a nossa cidade. A cidade onde nascemos e crescemos e nunca enjeitámos, a cidade onde vivemos por opção ou, por uma paixão que a casualidade atiçou e se transformou num grande amor que nos prende a esta, e não a outra cidade. E se o acaso da vida nos leva para longe… para outra cidade de oportunidades carregamos connosco a saudade dos espaços e das gentes que fazem única, a nossa cidade. (...)


Foto by Aníbal C. Pires (aguarela de Ana Rita Afonso)
Cidade com portas e mar

Neste sábado, talvez por ser sábado e com a cidade envolta num manto de nevoeiro, sentia-se, respirava-se, tranquilidade. Até as gentes caminhavam mais devagar, sem pressas, até os jovens conversavam em surdina, com gestos de ternura. Talvez por ser sábado, talvez para não despertarem o mito prometido para uma manhã de nevoeiro. Mas já não era alvorecer e mitos são mitos, não se deixam perturbar e muito menos influenciar. Porquê esta quietude húmida, quente… porquê esta dolência. Não sei, mas quero-a. Quero esta serenidade envolta nas místicas brumas que chegam do Sul. E fico ali, vivendo o tempo, fico ali a contemplar o dia na cidade que tem portas e mar.
E a noite abate-se sobre a cidade que hoje se vestiu de cinzento e tudo ficou ainda mais tranquilo. A quietude da cidade é, por vezes, suspensa pela luz dos candeeiros que ladeiam as praças e avenidas numa vã tentativa de abrir brechas na densa bruma e, pelos faróis dos raros carros que teimam em embaraçar a tranquilidade deste sábado. Aqui, nesta cidade vestida de cinzento para receber a escura e longa noite.






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